São Paulo, Terça-feira, 30 de Março de 1999
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Castelo Ho-Lly-Wood

Marlene Bergamo/Folha Imagem
Vista geral dos cinco cenários construídos no galpão em Cajamar; equipe de trabalho chegou a 130 pessoas



Com "Castelo Rá-Tim-Bum", que começa a ser filmado hoje, a nipo-americana Columbia Pictures passa a agir efetivamente como co-produtora no Brasil; além de financiar os filmes, como já fazia desde 96, agora também interfere no roteiro



IVAN FINOTTI
da Reportagem Local

O início das filmagens da produção de R$ 6,5 milhões "Castelo Rá-Tim-Bum", hoje, traz uma novidade para o cinema brasileiro dos anos 90: a interferência direta de Hollywood.
Décimo filme co-produzido no país pela americana Columbia Pictures (que pertence à japonesa Sony), "Castelo", de Cao Hamburger, é o primeiro no qual há a colaboração de executivos brasileiros e americanos no roteiro.
A "intervenção criativa" -para usar as palavras do produtor brasileiro de "Castelo", Alain Fresnot- se dá na base de sugestões. Aqui, quem sugere é Iôna de Macêdo, encarregada das co-produções da Columbia no Brasil, uma brasileira com experiência em distribuição de cinema na Europa.
Mas, no caso de "Castelo Rá-Tim-Bum", as opiniões vieram também da própria Hollywood, em Los Angeles -precisamente de Gareth Wigan, co-chairman da divisão de cinema da Columbia.
"Ele disse que a história é tão bonita que não precisa de tanto efeito especial", conta Iôna. "E sugeriu a mudança da motivação do Nino (o personagem principal), que era o eterno aprendiz de feiticeiro."
"Gareth disse: "Vocês têm um problema aí. Ele é um menino preguiçoso, e não pode ser preguiçoso. Pode ser rebelde ou um monte de coisas". A gente nem esperava que ele lesse", diz a executiva.
As mudanças foram incorporadas por Cao Hamburger, também roteirista e criador do projeto, mas o diretor é evasivo ao comentar o assunto. "Eles apontaram as qualidades. E nunca sugeriram nada para tornar mais comercial", diz.
As sugestões para tornar o filme com "cara de Columbia", segundo expressão de Iôna de Macêdo, não são impostas. "No fim, quem vai decidir mesmo é o diretor", afirma Rodrigo Saturnino Braga, gerente-geral da Columbia no Brasil.
"Não vamos criar um caso", diz Braga. "Mas, no final, sou eu que digo para o estúdio se vamos lançar o filme assim ou assado, com 10 ou com 200 pratas, investir 1 milhão ou 100 mil em marketing."
É o que se pode chamar de situação delicada para um diretor tentando viabilizar seu filme. Para o produtor, entretanto, a história é outra. Segundo Alain Fresnot, "a colaboração é importante. Porque a gente quer que, no lançamento, a Columbia dê o melhor de si. Ela tem que se sentir confortável, meio "madrinha" do filme". A multinacional já reservou R$ 900 mil para o lançamento, o mesmo valor usado com "Godzilla", por exemplo.
"Mas "Castelo" é um produto muito autoral, um projeto do Cao. Evidentemente, a última palavra é nossa. Há coisas que acatamos e outras, não", frisa Fresnot.
Esse não é o único caso de interferência hollywoodiana, apesar de ser o mais bem-acabado. "O Xangô de Baker Street" também passou pelo processo. Mas, segundo Iôna, o envolvimento foi mínimo e "não tivemos a mesma facilidade".
Para o produtor de "Xangô", Bruno Stroppiano, "o filme já estava andando. Não deve ter sido como eles queriam. Mas acho muito interessante". Já Miguel Faria, diretor do filme, diz não se lembrar especificamente das sugestões: "Tivemos apenas um almoço".
O produtor Luiz Carlos Barreto também enfrentou a situação quando seu filho Fábio dirigiu "Bela Donna" (co-produzido pela Pandora Pictures). "Foram vários pedidos. Alguns foram incorporados, outros não", diz Barreto.
"Mas tem que ter a seguinte noção: você está fazendo um produto cultural brasileiro e não pode deformar as idéias para atender motivos mercadológicos."


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