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Demorou 68 anos, mas nunca é tarde
da Reportagem Local
Antes tarde do que nunca. Da linhagem dos nobres do samba carioca, Walter Alfaiate esperou 68
anos até ver seu disquinho nascer.
"Olha Aí" vem, então, embalado
em curiosidade e espera. E Alfaiate
consuma sua obra musical como
um autêntico nobre da velha guarda musical brasileira.
Chama atenção, de início, a voz
potente, grave, aparentada, como
ele quer, à de Ciro Monteiro, mas,
também, à do não-sambista Nelson Gonçalves. É padrão de voz incomum ao samba, acostumado à
maciez de Cartola, Paulinho da
Viola. A estranheza deve ser rompida para se chegar ao samba de
Walter.
Conduzido por produtor hoje
hegemônico no samba, Rildo Hora, o trabalho é competente, mas,
básico demais, talvez não atinja as
alturas que Alfaiate merecia.
Isso não significa que haja razão
para lamento. As 14 faixas (18 sambas, se contados os medleys) são
um passeio narrativo por composições-historietas, hábito do qual
até o samba já anda desistindo.
São, também, um passeio histórico por vários bambas: Geraldo
Pereira ("Vai Que Depois Eu
Vou"), Nelson Sargento ("Falso
Amor Sincero"), Paulinho da Viola, (a inédita "Botafogo, Chão de
Estrelas", parceria com Aldir
Blanc), e Martinho da Vila, com
"Me Entrego sem Querer" (inédita
em parceria com Alfaiate).
São, por fim, um passeio por uma
vertente cada vez mais escassa, a
do samba sincopado, que aparece
em "Sacode Carola", "Meu Guarda-Chuva" e até nas linhas interioranas de "Ferro de Engomar", a peça mais peculiar do CD.
Bem, demorou, mas, num caso
como esse, é bom saber que nunca
é tarde. Walter Alfaiate, 68, está
lançado oficialmente.
(PAS)
Disco: Olha Aí
Artista: Walter Alfaiate
Lançamento: Alma
Quanto: R$ 18, em média
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