São Paulo, Terça-feira, 30 de Março de 1999
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Demorou 68 anos, mas nunca é tarde

da Reportagem Local

Antes tarde do que nunca. Da linhagem dos nobres do samba carioca, Walter Alfaiate esperou 68 anos até ver seu disquinho nascer.
"Olha Aí" vem, então, embalado em curiosidade e espera. E Alfaiate consuma sua obra musical como um autêntico nobre da velha guarda musical brasileira.
Chama atenção, de início, a voz potente, grave, aparentada, como ele quer, à de Ciro Monteiro, mas, também, à do não-sambista Nelson Gonçalves. É padrão de voz incomum ao samba, acostumado à maciez de Cartola, Paulinho da Viola. A estranheza deve ser rompida para se chegar ao samba de Walter.
Conduzido por produtor hoje hegemônico no samba, Rildo Hora, o trabalho é competente, mas, básico demais, talvez não atinja as alturas que Alfaiate merecia.
Isso não significa que haja razão para lamento. As 14 faixas (18 sambas, se contados os medleys) são um passeio narrativo por composições-historietas, hábito do qual até o samba já anda desistindo.
São, também, um passeio histórico por vários bambas: Geraldo Pereira ("Vai Que Depois Eu Vou"), Nelson Sargento ("Falso Amor Sincero"), Paulinho da Viola, (a inédita "Botafogo, Chão de Estrelas", parceria com Aldir Blanc), e Martinho da Vila, com "Me Entrego sem Querer" (inédita em parceria com Alfaiate).
São, por fim, um passeio por uma vertente cada vez mais escassa, a do samba sincopado, que aparece em "Sacode Carola", "Meu Guarda-Chuva" e até nas linhas interioranas de "Ferro de Engomar", a peça mais peculiar do CD.
Bem, demorou, mas, num caso como esse, é bom saber que nunca é tarde. Walter Alfaiate, 68, está lançado oficialmente.
(PAS)

Disco: Olha Aí Artista: Walter Alfaiate Lançamento: Alma Quanto: R$ 18, em média

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