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TV/CRÍTICA
Busca pelo sucesso atropela talento musical
ESTHER HAMBURGER
CRÍTICA DA FOLHA
Mais dois "reality shows"
estrearam no último sábado: "Fama", na Globo, e "Popstars", no SBT. As duas emissoras
perdem a oportunidade de arriscar e continuam a apostar na
apresentação de programas parecidos em horários semelhantes.
A realização profissional no
mundo do espetáculo permanece
em pauta, dessa vez de maneira
mais profissional e explícita. Os
programas acenam com carreiras
artísticas. Prometem uma espécie
de transfusão de sangue azul que
seria capaz de promover a aceitação de jovens talentos em um universo que aparece como o terreno
da realidade -o dos holofotes.
A competição do domingo agora acontece também aos sábados.
Os dois novos programas, como
seus antecessores, têm origem em
formatos já testados com sucesso
no exterior. Seria talvez possível
afirmar que "Fama" e "Popstars"
representam uma "evolução" em
relação à versão "casas".
Aqui não se trata simplesmente
de eliminar o concorrente em gincanas entediantes e/ou escatológicas. A motivação é produtiva. As
provas avaliam algo supostamente genuíno: o talento musical.
Mesmo que não vençam, os aspirantes ao sucesso passam pela experiência das aulas em grupo.
Na Globo, as semelhanças com
o "Big Brother" são grandes. Doze
"eleitos", homens e mulheres,
convivem no interior de uma
"academia". Têm aulas de dança e
canto; se exercitam, aprimoram
suas habilidades. A cada semana
dois serão eliminados. O público
pode salvar um.
No SBT o palco da estréia foi o
sambódromo. O espetáculo começa de massa. Seis mil garotas,
selecionadas num universo de 30
mil inscrições, dançam e cantam
lideradas por professores. E são
avaliadas por um júri de especialistas, devidamente apresentado
ao público -currículo e opiniões.
Há um apelo democratizante
nessas iniciativas. No SBT a mensagem é explícita. O programa deve revelar talentos dispersos no
território nacional. O objetivo é
formar uma banda.
O sucesso pré-concebido trai o
espírito da empreitada. Não interessa que tipo de música a banda
fará ou qual a afinidade que pode
vir a existir entre os componentes.
Consagrado antes mesmo de
existir, o conjunto musical provavelmente já possui gravadora e
contrato garantidos para o primeiro CD, sucesso antecipado de
vendas. Já quanto ao segundo, o
futuro é incerto e improvável.
Os compactos altamente editados que irão ao ar semanalmente,
em linguagem moderna, deixam
o tão anunciado talento individual de lado para enfatizar depoimentos alinhavados por uma narrativa formatada em tom convencional de melodrama. A competição é regada a suor e lágrimas. O
foco não está na performance artística de cada um dos jovens bonitos e charmosos selecionados.
As câmeras estão atentas às manifestações de emoção e gratidão.
Não se trata aqui de assumir um
tom nostálgico convencional ao
lembrar, por exemplo, que os festivais da Record ofereceram espaço a novos talentos, deram vazão
ao espontâneo e imprevisto, mas
seu foco estava na qualidade musical -e por isso fizeram história.
A disposição para o sucesso é
louvável. Pena que aqui se confunda sucesso com fama, glamour com espetáculo. Paradoxalmente, no mundo saturado de câmeras é o valor do segredo que
aumenta. E a publicidade não garante a sonhada transformação
do plebeu em príncipe. Resta a diversão dos participantes.
Fama
Onde: Rede Globo
Quando: todo sábado, por volta das 16h
Popstars
Onde: SBT
Quando: todo sábado, às 19h45
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