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MÚSICA
Cantora lança por seu selo próprio discos solo de estréia de dois dos nomes mais antigos da Velha-Guarda da Portela
Marisa Monte "revela" Jair e Argemiro
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
Volta a engrenar o Phonomotor, selo particular de Marisa
Monte, pelo qual ela lançou, em
2000, o celebrado "Tudo Azul", da
Velha-Guarda da Portela. Desta
vez, Marisa cede voz a duas sumidades da mesma Portela, Argemiro Patrocínio, 79, e Jair do Cavaquinho, 81, que têm oportunidade, pela primeira vez em suas vidas, de gravar discos solo.
"Esperei, esperei... Quem espera
sempre alcança. Só tenho esse disco, é uma relíquia. Ele é minha cachaça, fico o dia inteiro ouvindo",
expressa-se seu Jair, ex-integrante, nos 60, dos históricos conjuntos Rosa de Ouro, A Voz do Morro e Os Cinco Crioulos.
"Estou feliz, felicíssimo. É minha estréia, meu coração é como
de um garoto. Marisa é muito legal, me deu a chance de aparecer
no final da carreira", argumenta
seu Argemiro, autor do conhecido samba "A Chuva Cai", gravado
por Beth Carvalho em 78.
O CD de Argemiro foi produzido por Marisa, com participação
de músicos jovens como Moreno
Veloso, a portelense Teresa Cristina e Marcelo D2. O de Jair, gravado independentemente e depois
comprado por Marisa, ficou a cargo de Pedro Amorim e tem acompanhamento "tradicional" do
Grupo Semente, ligado a Teresa.
"A iniciativa de Marisa é muito
boa, mas não podemos ficar esperando tudo só dela", diz Teresa,
34. E Marisa despista a continuidade do Phonomotor: "Não tenho nenhum outro projeto em
vista. Esse não é meu trabalho, só
faço porque me faz muito bem".
Mesmo distintos, os dois CDs
foram empacotados numa caixinha única e serão vendidos somente em dupla durante os próximos três meses. Marisa tenta justificar a opção: "Fizemos assim
para dar oportunidade a quem
quiser os dois discos de comprar
no primeiro momento por um
preço mais acessível".
A definição da gravadora de salgados R$ 48 como preço fixo do
pacote desmente Marisa, mas seu
empresário, Leonardo Netto, tem
explicação mais afinada com as
mazelas do mercado atual:
"Se vendêssemos separadamente, os lojistas só iriam querer
o disco de seu Argemiro, porque
tem participação de Marisa Monte e tal. Foi a solução para tentarmos forçar os lojistas a levar também o de seu Jair". Tais lojistas
devem desconhecer que o CD anterior da Portela já vendeu a cifra
surpreendente de 40 mil cópias.
Argemiro e Jair parecem ver
com simpatia ressabiada seu
acondicionamento num só pacote, sublinhando diferenças. Argemiro integra há décadas o grupo
musical Velha-Guarda da Portela.
Jair entrou mais recentemente,
como ele conta: "Por incrível que
pareça, sou o número um da escola, mas só entrei porque morreu o
Manacéa. Sou o mais velho e o
mais novo do grupo".
Outra diferença? Argemiro
apostou nos sucessos que cravou
no chão firme da Portela: "Quis
gravar meus sucessos". Jair, não.
"Não botei as que foram sucesso,
como "Vou Partir", "Pecadora". Ficaria esquisito, um aspecto de
quem perdeu a inspiração. Eu não
perdi", define, contrariando leis
máximas de redundância do mercado de "acústicos" e "ao vivo".
O jornalista Pedro Alexandre Sanches
viajou a convite da Phonomotor/EMI
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