São Paulo, terça-feira, 30 de abril de 2002

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MÚSICA

Cantora lança por seu selo próprio discos solo de estréia de dois dos nomes mais antigos da Velha-Guarda da Portela

Marisa Monte "revela" Jair e Argemiro

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Volta a engrenar o Phonomotor, selo particular de Marisa Monte, pelo qual ela lançou, em 2000, o celebrado "Tudo Azul", da Velha-Guarda da Portela. Desta vez, Marisa cede voz a duas sumidades da mesma Portela, Argemiro Patrocínio, 79, e Jair do Cavaquinho, 81, que têm oportunidade, pela primeira vez em suas vidas, de gravar discos solo.
"Esperei, esperei... Quem espera sempre alcança. Só tenho esse disco, é uma relíquia. Ele é minha cachaça, fico o dia inteiro ouvindo", expressa-se seu Jair, ex-integrante, nos 60, dos históricos conjuntos Rosa de Ouro, A Voz do Morro e Os Cinco Crioulos.
"Estou feliz, felicíssimo. É minha estréia, meu coração é como de um garoto. Marisa é muito legal, me deu a chance de aparecer no final da carreira", argumenta seu Argemiro, autor do conhecido samba "A Chuva Cai", gravado por Beth Carvalho em 78.
O CD de Argemiro foi produzido por Marisa, com participação de músicos jovens como Moreno Veloso, a portelense Teresa Cristina e Marcelo D2. O de Jair, gravado independentemente e depois comprado por Marisa, ficou a cargo de Pedro Amorim e tem acompanhamento "tradicional" do Grupo Semente, ligado a Teresa.
"A iniciativa de Marisa é muito boa, mas não podemos ficar esperando tudo só dela", diz Teresa, 34. E Marisa despista a continuidade do Phonomotor: "Não tenho nenhum outro projeto em vista. Esse não é meu trabalho, só faço porque me faz muito bem".
Mesmo distintos, os dois CDs foram empacotados numa caixinha única e serão vendidos somente em dupla durante os próximos três meses. Marisa tenta justificar a opção: "Fizemos assim para dar oportunidade a quem quiser os dois discos de comprar no primeiro momento por um preço mais acessível".
A definição da gravadora de salgados R$ 48 como preço fixo do pacote desmente Marisa, mas seu empresário, Leonardo Netto, tem explicação mais afinada com as mazelas do mercado atual:
"Se vendêssemos separadamente, os lojistas só iriam querer o disco de seu Argemiro, porque tem participação de Marisa Monte e tal. Foi a solução para tentarmos forçar os lojistas a levar também o de seu Jair". Tais lojistas devem desconhecer que o CD anterior da Portela já vendeu a cifra surpreendente de 40 mil cópias.
Argemiro e Jair parecem ver com simpatia ressabiada seu acondicionamento num só pacote, sublinhando diferenças. Argemiro integra há décadas o grupo musical Velha-Guarda da Portela. Jair entrou mais recentemente, como ele conta: "Por incrível que pareça, sou o número um da escola, mas só entrei porque morreu o Manacéa. Sou o mais velho e o mais novo do grupo".
Outra diferença? Argemiro apostou nos sucessos que cravou no chão firme da Portela: "Quis gravar meus sucessos". Jair, não. "Não botei as que foram sucesso, como "Vou Partir", "Pecadora". Ficaria esquisito, um aspecto de quem perdeu a inspiração. Eu não perdi", define, contrariando leis máximas de redundância do mercado de "acústicos" e "ao vivo".


O jornalista Pedro Alexandre Sanches viajou a convite da Phonomotor/EMI



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