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CRÍTICA
Encantos melancólicos (enfim) eternizados
DO ENVIADO AO RIO
Duas glórias nacionais,
Argemiro Patrocínio e Jair
do Cavaquinho escapam por pouco de nunca terem tido suas obras
devidamente registradas -e Marisa Monte, que não tem obrigação, salva a pátria que outros deveriam salvar.
Gravados e editados, esses são
dois discos que jamais serão esquecidos, até pelo que guardam
de melancolia e de talento represado que se solta em momento já
sem viço, sem pulmão.
Similares e bem distintos, os
dois discos têm encantos próprios
e particulares.
O de Jair exibe artista que nunca
se treinou para ser cantor e que
tem a voz cansada e fraquinha,
além de tímida. Tem, entretanto,
letras simples, confessionais e imponentes, assim como melodias
diretas, variadas (além de samba
há jongo, cateretê etc.), tocantes e
quase sempre doídas.
Os acompanhamentos do Grupo Semente e a direção de Pedro
Amorim arredondam prós e contras, conduzindo-os sempre pelo
fio de indestrutível dignidade.
O disco de Argemiro, por sua
vez, prima pela exuberância, mesmo que também melancólico (como na magnífica "Solidão"). Colaboram para sopros de frescor as
participações corretas e suaves de
Moreno Veloso e Marisa Monte.
Mas o evento, nesse sentido, é a
intervenção de Teresa Cristina,
em "Amém" (pertencente à tradição vocal e militante de Cristina
Buarque, ela já prepara sua estréia, pela gravadora Deckdisc,
cantando Paulinho da Viola, o
que é desde já promessa de bons
ventos para a nova MPB).
Juntos, Argemiro e Teresa fazem a ponte possível da eternidade do samba, seja num senhor octogenário, seja numa moça que
abraçou o gênero por afinidade.
Lá de seu disco, Jair do Cavaquinho assina embaixo, e a carruagem segue resplandecente.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
Argemiro Patrocínio e Seu Jair
do Cavaquinho
Lançamento: Phonomotor
Quanto: R$ 48 (preço sugerido pela
gravadora)
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