São Paulo, terça-feira, 30 de abril de 2002

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CRÍTICA

Encantos melancólicos (enfim) eternizados

DO ENVIADO AO RIO

Duas glórias nacionais, Argemiro Patrocínio e Jair do Cavaquinho escapam por pouco de nunca terem tido suas obras devidamente registradas -e Marisa Monte, que não tem obrigação, salva a pátria que outros deveriam salvar.
Gravados e editados, esses são dois discos que jamais serão esquecidos, até pelo que guardam de melancolia e de talento represado que se solta em momento já sem viço, sem pulmão.
Similares e bem distintos, os dois discos têm encantos próprios e particulares.
O de Jair exibe artista que nunca se treinou para ser cantor e que tem a voz cansada e fraquinha, além de tímida. Tem, entretanto, letras simples, confessionais e imponentes, assim como melodias diretas, variadas (além de samba há jongo, cateretê etc.), tocantes e quase sempre doídas.
Os acompanhamentos do Grupo Semente e a direção de Pedro Amorim arredondam prós e contras, conduzindo-os sempre pelo fio de indestrutível dignidade.
O disco de Argemiro, por sua vez, prima pela exuberância, mesmo que também melancólico (como na magnífica "Solidão"). Colaboram para sopros de frescor as participações corretas e suaves de Moreno Veloso e Marisa Monte.
Mas o evento, nesse sentido, é a intervenção de Teresa Cristina, em "Amém" (pertencente à tradição vocal e militante de Cristina Buarque, ela já prepara sua estréia, pela gravadora Deckdisc, cantando Paulinho da Viola, o que é desde já promessa de bons ventos para a nova MPB).
Juntos, Argemiro e Teresa fazem a ponte possível da eternidade do samba, seja num senhor octogenário, seja numa moça que abraçou o gênero por afinidade. Lá de seu disco, Jair do Cavaquinho assina embaixo, e a carruagem segue resplandecente.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)


Argemiro Patrocínio e Seu Jair do Cavaquinho    
Lançamento: Phonomotor
Quanto: R$ 48 (preço sugerido pela gravadora)




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