São Paulo, domingo, 30 de abril de 2006

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MÔNICA BERGAMO

O rompimento de organizadoras de eventos que reúnem banqueteiros chiques de SP e seu doce resultado: duas feiras gastronômicas em vez de uma

A guerra dos doces e dos salgadinhos

De um lado, Regina Moraes, que carrega no sobrenome o prestígio de uma das famílias mais ricas e tradicionais do país -ela é filha do empresário Antônio Ermírio de Moraes e herdeira da Votorantim. De outro, Márcia Costa, ex-sócia de Regina no projeto "Velho Amigo", de auxílio a idosos.

 

Uma das personagens mais conhecidas da sociedade paulistana por seu trabalho social, Regininha, como é conhecida, ainda era sócia de Márcia quando, em 2004, as duas organizaram um evento gastronômico para arrecadar recursos para o "Velho Amigo" e outros projetos assistenciais. Era o "Degustar", feira em que chefs e banqueteiros de "alto luxo", para casamentos e festas, mostram seu trabalho para o público, que paga para experimentar os quitutes. "Ela teve a idéia. Eu viabilizei", diz Regininha.
 

A sociedade foi rompida um ano depois, em 2005. "Foi quando ela [Márcia] veio com um contrato dizendo que eu não poderia copiar o evento. Não assinei", diz Regininha. "Ela clonou meu evento", reclama Márcia. "Nada se cria. Tudo se copia, meu bem", rebate Regininha. "Eu tinha os contatos, consegui o top do top dos chefs para o nosso evento. Mas não quero ficar com picuinha. Ela tem o público dela, eu tenho o meu. Tem espaço para todos."
 

As duas hoje nem se falam. Com isso, a cidade acabou ganhando dois eventos de gastronomia: o "Degustar", de Márcia, que começa na quinta, e o "Les Chefs et Décors", de Regininha, no segundo semestre. Os chefs se dividiram: Neka Menna Barreto e Charlô participam do primeiro. Andrea Fasano e Toninho Mariutti, do segundo. Um docinho, só um docinho feito por alguns deles pode custar R$ 30. Um bolo, R$ 5 mil. Um jantar, R$ 300 por pessoa. Abaixo, alguns exemplos desses sofisticados cardápios:

Bolo na boléia do caminhão

Divulgação


Há cinco anos, Patrícia Piva, da loja de doces Pati Piva, teve de alugar um caminhão baú para carregar o bolo de Natercia Tiba, filha do psicólogo Içami Tiba. "A mãe tinha comprado noivinhos que iam valsar no bolo. Até um motor foi colocado dentro do bolo. Chamei meu marido, que entende de geometria, para calcular o tamanho: só a base tinha 1m60 de diâmetro! Só coube num caminhão."
Pati levou 15 dias preparando o bolo de Lianinha Moraes, de sete andares e coberto com flores de açúcar e de porcelana italiana. O recheio preferido das noivas, diz, leva ganache (creme gelado) de chocolate branco e ao leite -importados da Bélgica- e praliné. O preço varia de R$ 700 a R$ 7 mil.

"É ganso, não pato!"
A terrine de foie gras de Andrea Fasano já é um clássico que ela serve nas festas. "De ganso! Não de pato. E francês, que é mais suave," alerta o chef Marcelo Gussoni, da equipe de Andrea. Ele ensina: o foie gras deve marinar em vinho do porto e, em seguida, ser levado ao forno a 350 por quatro minutos. Depois deve passar 24 horas no refrigerador. Deve ser servido frio, acompanhado de geléia de vinho do porto, um xarope do vinho com açúcar "que garante o sabor agridoce do prato". Apesar do requinte de ingredientes, Andrea afirma: "Sofisticação não é preço. É a delicadeza dos garçons, é o serviço bem feito, sem overdose de nada."

Sorvete com azeite
Sorvete de framboesas frescas com algumas gotas de azeite extra-virgem espanhol? E mais placas de chocolate belga, calda de manga -e pétalas de amor-perfeito? É uma das receitas de Neka Menna Barreto, que ela serviu, por exemplo, no casamento de Luciano Huck e de Angélica. "Ele queria tudo muito chique, só podia ter garçons bonitos", lembra Jacque Menna Barreto, irmã de Neka e sócia no bufê. No noivado de Daniella Cicarelli, Neka serviu canapés de milho com pasta de foie gras. E marmitas, sim, marmitas, com picadinho e arroz no casamento de Gabriela Nader. Só que o picadinho dela leva mais de dois dias para ficar pronto. É feito com vinho do porto e feijão fradinho no molho.

Bem-casado de galinha
Há 30 anos, Conceição Molica Amaral, a dona Conceição, não muda a receita do bem-casado, que é segredo de estado. Mas já teve de esperar galinhas d'angola morrerem para entregar seus docinhos. É que ela já chegou a embalar os doces em saquinhos de papel crepon amarrados com um broche em formato de libélula. As asas da libélula eram de penas da galinha, conforme pedido da noiva.
 

"Não dava para matar o bichinho, né? Tínhamos tempo para fazer a entrega. Então, ou esperava cair a pena, ou morrer", conta Margarida, filha de Conceição. Em cada libélula, além das penas, mais de 10 cristais Swarovski. O mimo saiu por R$ 30 cada. Foi na Conceição que Athina Onassis, Angélica e o jogador Kaká encomendaram seus quitutes.

Lagosta e framboesa
Um dos eventos que o chef Toninho Mariutti já fez e considera "chiquetérrimo" é o casamento de Raquel Habib, em 2003. "Servi uma espécie de petit degustação com mini porções de lagosta com molho de framboesas, suflê de cavaquinha com ovas de salmão e alcachofra com pout-pourrit de ervas finas." Um bufê desse tipo passa dos R$ 300 por pessoa. "Mas tem quem queira ser divertido. Casei uma menina da família Furlan, há uns dois anos, que pediu uma mesa com paçoca rolha, balas de goma e barras de chocolate." No ano passado, outra noiva teve quase a mesma idéia, mas pediu tudo rosa. "Queria uma mesa infantil pink. Enchemos a mesa de pirulitos, morangos glaceados, maçã-do-amor e jujuba."

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