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CINEMA
Cineasta e artista criam pesadelos em "Filmefobia"
Cris Bierrenbach inventou aparelhos para aterrorizar fóbicos no longa de Kiko Goifman, que estreia hoje
"Documentário de ficção", que estreia hoje, apresenta cerca de 20 fóbicos frente
a seus maiores medos,
de pombos a borboletas
IVAN FINOTTI
DA REPORTAGEM LOCAL
Citação 1: "-É uma máquina
singular - disse o oficial ao explorador, percorrendo com um
olhar de admiração o aparelho
que ele, no entanto, conhecia
bem." Assim começa "Na Colônia Penal" (1914), conto no qual
Franz Kafka descreve um aparelho com agulhas e roldanas
concebido para torturas.
Citação 2: "-Você me perguntou certa vez o que havia na
sala 101. Respondi que você já
sabia a reposta. O que existe na
sala 101 é a pior coisa do mundo." Esta é uma fala de "1984"
(1949), no qual George Orwell
cria a sala de torturas customizada, na qual cada um é colocado frente a seu maior medo.
"Filmefobia", que estreia hoje, pode ser visto como uma
mistura desses dois pesadelos.
O diretor Kiko Goifman (na tela, o crítico Jean-Claude Bernardet) parte da frase "a única
imagem verdadeira é a do fóbico diante da fobia" e tenta captar o desespero. Como? Construindo máquinas que traduzam o terror de cada fóbico.
"A ideia é causar o maior desconforto possível em quem estiver vendo", diz Goifman, 41.
Para tanto, ele chamou a artista plástica Cris Bierrenbach,
45. Responsável por tornar o
horror uma realidade, Bierrenbach trabalhou com roldanas,
correntes, cordas, brinquedos,
espelhos e o que mais estivesse
à mão para montar esses infernos particulares -alguns criados exclusivamente por ela; outros, adaptados de ideias macabras de Goifman e do roteirista
Hilton Lacerda.
Ela construiu uma cama-gaiola para um fóbico por ratos.
Uma máquina da morte para
enrolar um "defunto". Um sistema de tubos transparentes
para fazer circular sangue em
volta da cabeça do diretor, que
desmaiou na hora.
Um guindaste para fazer voar
quem tem medo de avião. Uma
bateria de de carrinhos bate-e-volta com pênis de borracha
grudados para aterrorizar uma
moça que não suporta a ideia de
ser penetrada. Sistemas de sobe-e-desce para seringas ameaçadoras. Catapultas de botões.
Ventilador para espalhar pelos.
Cobra, araras, pombos e lesma.
Tudo isso com um orçamento reduzido, de R$ 1.500 para
cada uma das 20 máquinas.
"O mais difícil foi que nunca
podíamos testar as máquinas
com os fóbicos, para não perder
a surpresa. E algumas exigiam
cálculos, usavam molas ou objetos içados", conta ela. "Buscamos sempre as ideias mais inusitadas. Na verdade, pode-se dizer que a gente se divertiu", diz.
Nem todo mundo se diverte,
no entanto. Na segunda-feira,
ela chegou dos EUA, onde
acompanhou "Filmefobia" em
dois festivais. "Os americanos
ficaram chocados. Muitos saíram na metade do filme, dizendo que era tortura. Não é, porque os fóbicos aceitaram participar do filme. É apenas um acordo entre pessoas."
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