SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA

Em "33" (2002), documentário em torno da busca pela mãe biológica do próprio diretor, Kiko Goifman, apresentavam-se princípios de risco, como a exposição do cineasta em relato de caráter autobiográfico e um conceito de "realização em progresso" que trabalha com dados imprevisíveis na fase de planejamento e incontroláveis durante as filmagens. Vencedor dos prêmios de melhor filme e ator (o professor, ensaísta e cineasta Jean-Claude Bernardet) no Festival de Brasília de 2008, "Filmefobia" dá prosseguimento à trajetória de Goifman como um pesquisador interessado pela experimentação, mas traz ingredientes ainda mais radicais e polêmicos do que "33".
Desta vez, não se trata de um documentário, mas de um longa de ficção que procura embaralhar os conceitos tradicionais para lembrar que, em muitos casos, eles já não conseguem mais dar conta do hibridismo da produção contemporânea.
"Filmefobia" se apresenta ao espectador como o "making of" de um documentário sobre fóbicos.
No filme-dentro-do-filme, o cineasta Jean-Claude (interpretado por Bernardet) expõe diversas pessoas aos animais, objetos e situações relacionados a suas fobias, como o medo de ratos, de sangue ou de ser enterrado vivo. O "making of" o acompanha durante reuniões de equipe e também durante as filmagens.
"Filmefobia" seria "apenas" um filme de ficção que finge ser um documentário se o uso de certos métodos de encenação -como o uso de fóbicos em diversos papéis e de uma "agenda secreta" que escondia deles algumas coordenadas das sequências que protagonizariam- não o tornasse um jogo de diferentes camadas.
Algumas dessas coordenadas, no entanto, só estão ao alcance de quem conhece as circunstâncias de realização, como o envolvimento de Jean-Claude Bernardet e Kiko Goifman com seus personagens.