ANDRÉ BARCINSKI
CRÍTICO DA FOLHA

Tony Stark, o bilionário interpretado por Robert Downey Jr. em "Homem de Ferro", é um personagem tão narcisista quanto divertido. Curiosamente, "Homem de Ferro 2" traz os mesmos defeitos do herói. É um filme arrogante e autorreferente ao extremo.
Se você não viu o primeiro filme ou não conhece o gibi, vai ficar perdido na história. Não há uma só explicação sobre a origem do "Homem de Ferro" ou de outros personagens secundários. O espectador novato à trama se sente um intruso.
Em "Homem de Ferro 2", Tony Stark é ameaçado em duas frentes. Primeiro, enfrenta um russo louco, Ivan Vanko (Mickey Rourke), um gênio que, para vingar o pai, desafeto da família Stark, cria um robô e enfrenta o Homem de Ferro.
A segunda ameaça é outro magnata egocêntrico, Justin Hammer (o ótimo Sam Rockwell), rival de Tony Stark. No início, o filme até que funciona como uma comédia, satirizando o culto a celebridades e a sanha belicista norte-americana. Tony Stark é mostrado como um astro pop, dando show em entrevistas e agindo como um playboy mimado.
Downey Jr. claramente se diverte no papel. Quando o filme parte para a ação, no entanto, é mais do mesmo: criaturas metálicas voando, perseguições em alta velocidade, explosões mil e aquela edição com ritmo de videogame. Tédio.
Outra característica do filme, e que diz muito sobre o atual cinema de fantasia hollywoodiano, é a mania de misturar ficção e realidade. Será que a cultura pop se impregnou em nosso "zeitgeist" (espírito do tempo) de uma forma tão poderosa que a arte precisa de personagens reais para se legitimar? Como explicar a presença dos âncoras de TV Christiane Amanpour (ex-CNN) e Bill O'Reilly (Fox News) interpretando a si próprios? Será que a fantasia pura não basta para o público do "Big Brother"?