São Paulo, domingo, 30 de maio de 2004

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MÔNICA BERGAMO

Ana Ottoni/Folha Imagem
São intensas as cenas de amor e sexo entre os personagens de "A Primeira Noite de um Homem"


Uma noite à luz de Vera


"Outro dia vi um pedaço de "Celebridade" na Globo e a novela das sete, que não sei o nome. Achei insuportáveis."

"Ou alguém vem e vira um ditador, ou vai continuar assim (...). O Brasil é um país de índio, de bugre. Você aqui não é cidadão."



Fim do ensaio da peça "A Primeira Noite de um Homem", que estréia na quarta, 2, no teatro Clara Nunes, no Rio. O diretor Miguel Falabella se aproxima do palco. O elenco, Vera Fischer ao centro, está sério, circunspecto. Falabella faz correções à interpretação do ator Armando Babaioff, 23, que estréia no teatro como Benjamim, o jovem amante de Vera na peça.
 
"Não precisa forçar nada. A situação já é constrangedora. Você está com aquele mulherão [Vera] em cima de você! Todos os homens na platéia vão ficar com o pau deste tamanho!" Vera ri, baixinho. "E você, Vera, deu um show. Show de bola!"
 
Na peça, que tem uma aguardada cena de nudez, ela é a sra. Robinson, alcoólatra, deslumbrante, amoral, que seduz um jovem de 21 anos -e este depois se apaixona por sua filha [interpretada por Rafaela, filha de Vera na vida real]. "Embora antagonista de uma história de amor, a sra. Robinson é a única do enredo com quem gostaríamos de conversar numa festa!", diz Falabella. Ponto para Vera.
 
A atriz relaxa. Já passa da meia-noite, e ela vem de dois dias tensos de ensaios. O bom desempenho, exaltado pelo diretor, faz com que ela fique feliz, falando sem parar.
 
"Deixa eu explicar o que é isso", diz ela à coluna, em frente a um bilhete do filho, Gabriel, 11, que está colado no espelho do camarim.
 
"Mamamia, mami's, mãe, mutter! E aí, mãe! Eu estou fazendo esse bilhete por causa do Dia das Mães. Ah! Obrigado pelas cartas, quer dizer, obrigado por tudo que você me deu. Abraços e beijos do Gab's."
 
Vera explica: "Quando eu viajo, entre outras coisas que eu compro -porque eu sou consumista, você sabe, né?-, estão cartões de arte. E agora estou mandando para ele." Os dois moram no Rio, mas Gabriel vive com o pai, Felipe Camargo. A atriz manda os cartões, de Dalí, de Picasso, pelo correio. "Vou mandar um do Monet e um do Manet, que é para ele saber que existe um Monet e um Manet."
 
Vera, que perdeu a guarda de Gabriel depois de um período bastante conturbado de sua vida, deixa transparecer que está numa fase tranqüila. Tem ficado em casa ou no sítio. Dorme tarde, fazendo palavras cruzadas. Só vê canais pagos de TV. Novelas, nem pensar.
 
"Outro dia vi um pedaço de "Celebridade" na Globo, e a novela das sete, que não sei o nome. Achei insuportável. São insuportáveis, todas as novelas. Eles descobriram a forma de ser o pior." Já a minissérie "Um Só Coração" ela "adorou". A atriz mantém contrato com a emissora e foi convidada por Wolf Maia para a próxima novela das oito. Recusou. "Eu adoro o Wolf. Mas queria me concentrar na peça."
 
A atriz não tem mais sido vista na noite carioca. "Perdi a vontade. Eu chego e ficam me olhando. Sou a única pessoa interessante desses lugares? Então vou ficar em casa usufruindo de mim", diz.
 
"Outro dia li numa revista: por que ela está tão calma? Mesmo quando não faço nada, as pessoas têm que escrever!"
 
E Vera, parou mesmo de beber, consome agora só cerveja sem álcool, como já foi divulgado? "Que mentira! Que mentira! Eu não tenho essas coisas, não! Eu gosto de champanhe e vinho tinto. Adoro. Eu gosto de beber. E não fico bêbada nem de ressaca. Eu tenho o organismo muito forte, sabia? Muito forte." Chateada, ela diz que não se conforma por escreverem "essas mentiras" sobre ela, "poderiam ao menos perguntar, né?".
 
Política é assunto chato para a atriz, que não está gostando do governo Lula. Ela acha que "ou alguém vem e vira um ditador, ou vai continuar assim. Homeopaticamente não funciona. O Brasil é um país de índio, de bugre. Você aqui não é cidadão".
 
Uma funcionária traz um prato de salada. No dia anterior, a atriz devorou cinco sanduíches de presunto e queijo, divertindo-se ao contar que dias antes havia comido até mais, "oito de uma vez". Vera está com "uns 61 kg". Faz ginástica três noites por semana, sempre às 22h.
 
Emagreceu, e sua barriga desapareceu. Resultado também de uma lipoaspiração que fez há alguns anos, no abdômen e nas pernas. "Minha barriga sempre foi boa, sabia? A da minha filha Rafaela também. Mas a gente não é boa de bunda. Cai. Não tem formato de bumbum de brasileira. Mas também não faço nenhuma questão, sabia? Mulher tem que ter o seio legal, a cara legal." E no rosto, já fez plástica? "Nunca. Mas daqui a pouco eu vou fazer, sabia?"
 
"Está se alimentando bem, Fáfis?", pergunta ela à filha. "Perry, tá aqui, eu trouxe o seu perfume. É Issey Miyake", diz ela ao ex-marido, Perry Salles, que na peça interpreta o marido da sra. Robinson. "Começou o free shop", brinca Perry. "É que na minha casa tem um armário cheio de coisas que eu chamo de free shop."
 
"Eu sou muito consumista mesmo, sabe?", repete mais uma vez. "Eu viajo para o exterior e compro tudo. Detesto viajar com pouco dinheiro. Vou nessas lojas grandes aqui no Brasil e compro também. Eu tenho creme para o dia, para a noite, para os olhos. Eu compro um de cada marca."
 
Ela diz que é "bem rústica" nas compras. "Sabe o que eu faço? Eu vou para a Europa, entro na Gucci, coloco uma montanha de dinheiro em cima do balcão e saio escolhendo roupas." "Ah, outro dia em Paris entrei na loja do Cavalli e comprei todas as camisas de que gostei. Cinco camisas", conta Falabella.
 
No camarim, Vera tem sete perfumes, "um para cada dia" da semana. "Se estou romântica, eu uso esse aqui, In Love Again, do Yves Saint Laurent. O Envy, da Gucci, é mais sério. Meu preferido é o Jean-Louis Cherrer. Mas esse eu só uso em momentos "very special"."
 
Está namorando? "Não. Se eu estivesse, você saberia. Há algum tempo namorei um rapaz... Alexandre não sei de quê... durou só dois dias, mas saímos, fomos ao Canecão, fotografaram. Eu não escondo nada."
 
É tarde. Vera parte, ao lado de Perry, protegida do friozinho do Rio por um casaco vermelho. Um dos muitos que comprou na Gucci com sua "montanha de dinheiro" no balcão.


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