São Paulo, domingo, 30 de maio de 2004

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Público "toma controle" de "American Idol"

KATE AURTHUR
DO "NEW YORK TIMES"

Como se precisássemos de um lembrete de que o sistema eleitoral norte-americano é imperfeito. Milhões de espectadores de "American Idol" votam, por telefone e mensagens de texto, nos seus concorrentes favoritos. Mas na presente temporada as votações foram tão volúveis e empurraram o programa para tão longe de seu propósito de encontrar o melhor cantor ou cantora desconhecido/a e fazer dele/a um astro, que até mesmo os jurados criticaram os resultados.
Quando La Toya London, 25, uma cantora de estilo parecido com o de Anita Baker, foi eliminada da competição em 12 de maio, o jurado Randy Jackson classificou o resultado como "farsa".
Em abril, Simon Cowell, o mais desbocado dos três jurados (que selecionam o conjunto inicial de concorrentes, mas não controlam a escolha do vencedor), disse: "Não me importo mais com o programa deste ano". E até mesmo Paula Abdul, a jurada que nunca tem algo de negativo a dizer, disse em entrevista que não seria capaz de prever quem sairia vitorioso no programa final da temporada, na quarta-feira, "porque jogaram a lógica pela janela". A candidata Fantasia Barrino foi a vencedora dessa edição.
Os dois episódios semanais do programa ainda foram líderes em audiência, mas os índices são apenas parte da fórmula. Mais do que um programa de calouros, a idéia é que a série funcione como o grupo de discussão mais público do mundo, espécie de teste para descobrir que cantores se saem melhor junto à audiência.
O método funcionou, no passado. Kelly Clarkson, vencedora da primeira temporada, Ruben Studdard, vencedor da segunda, e até mesmo Clay Aiken, derrotado por Studdard, venderam milhões de discos. Mas neste ano diversos cantores excelentes e adaptados ao formato comercial das rádios foram eliminados nas votações. Em seus lugares, gente desafinada e exagerada avançou.
Se os finalistas de "American Idol" não tiveram talento, o que isso significa para a premissa do programa e para o seu futuro?
Consideremos um procedimento adotado nos demais "reality shows": "Big Brother" começou permitindo que os telespectadores decidissem o destino dos concorrentes, mas mudou de idéia depois de uma primeira temporada desastrosa, em que qualquer candidato com personalidade era eliminado. Em "The Apprentice", os produtores Mark Burnett e Donald Trump não deixaram nada ao acaso -demitiam participantes a torto e a direito, de acordo com o que consideravam ser melhor para o programa.
Assim, por que "American Idol" deixa seu destino nas mãos do público? Quem são essas pessoas, e em que baseiam seus votos? Serão conhecedores de música? Fãs votando pelo participante com quem compartilham uma cidade natal? Meninas de 12 anos encantadas com um concorrente?
Mas nem tudo foi ruim. A temporada teve pontos altos, tanto em termos de coisas tão ruins que se tornam boas quanto em termos de qualidade genuína. Assistir a John Stevens, 16, com um comportamento e voz anacrônicos inspirados pelo "Rat Pack" de Frank Sinatra, cantar acompanhado pelo Miami Sound Machine foi mais engraçado do que qualquer episódio de "Friends".
"American Idol" não pára de crescer em popularidade, e já que o formato do programa é simples seria fácil alterar a fórmula para a próxima edição: talvez uma mudança de pessoal entre os jurados? Ou dar aos jurados o poder de proteger concorrentes contra o voto popular, ocasionalmente?
"American Idol" costumava exibir grande senso de justiça em termos de cultura pop. Mas o programa perdeu essa inocência.


Tradução Paulo Migliacci

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