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A vida longa de Onetti
Primeiro romance do uruguaio Juan Carlos Onetti, "O Poço" ganha tradução para o português
70 anos após lançamento; neste ano, ainda, é comemorado
o centenário
de nascimento do autor
Divulgação
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O escritor uruguaio Juan Carlos Onetti em retrato de agosto de 1972
DENISE MOTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM
MONTEVIDÉU
Em julho, o Brasil recebe, por
fim, em português, "O Poço", a
primeiro romance publicado
pelo uruguaio Juan Carlos
Onetti (1909-1994), em 1939.
O lançamento, inédito em
território nacional, faz parte
das comemorações do centenário de nascimento do autor
-em 1º de julho-, chamado de
"escritor de escritores" por
conta da singularidade de seu
estilo e da qualidade que imprimiu aos escritos que ostentaram sua assinatura.
"O Poço", sobre um homem
prestes a completar 40 anos
que repassa suas memórias em
uma noite, chega às livrarias
brasileiras pela editora Planeta.
No mesmo volume (R$ 38,
168 págs.), é editada também
pela primeira vez em português
a novela "Para uma Tumba sem
Nome", de 1959, que trata da
relação entre um rapaz e uma
misteriosa mulher.
Ganhador do Prêmio Cervantes, em 1980, Onetti é citado como referência por autores
como Vargas Llosa -que, neste
ano, lançou "El Viaje a la Ficción" (a viagem à ficção, ainda
sem previsão de lançamento no
Brasil), ensaio em que mergulha na obra do uruguaio.
"Sem dúvida, a autenticidade
dele o torna admirável por seus
pares. Mas há muito mais elementos que têm a ver com o uso
da linguagem, com a criação de
um mundo, que faz com que ele
seja um dos grandes nomes da
literatura escrita em espanhol",
diz à Folha a uruguaia Hortensia Campanella, editora das
"Obras Completas" do autor e
uma das maiores especialistas
em sua obra.
Em "O Poço", segundo ela, é
possível observar "concentradas várias das linhas capitais da
obra narrativa do escritor: a figura do sonhador, a atmosfera
de decadência e insatisfação,
um existencialismo precoce
para o século 20 que pode ser
associada mais com Dostoiévski do que com Sartre".
Já "Para uma Tumba sem
Nome" é um "marco em relação ao ciclo de narrativas em
torno de Santa María, esse território mítico que Onetti cria
como sustentáculo de suas histórias". Na novela, surgem vários personagens recorrentes
em textos seguintes, como Dr.
Díaz Grey ou Jorge Malabia.
Visão panorâmica
Para Rogério Alves, gerente
editorial da Planeta no Brasil, o
lançamento simultâneo dos
dois textos do autor possibilita
uma "visão panorâmica interessante, é como assistir ao desenvolvimento de todo um estilo num mesmo livro".
Além desses títulos, a editora
prepara ainda para julho uma
reedição em novo formato e
com novas capas de "Vida Breve" (1950), "O Estaleiro" (1961)
e "Junta-Cadáveres" (1964).
Os lançamentos no Brasil
inauguram a coleção Planeta
Literário, que contará com
obras não só do criador da portuária e lúgubre Santa María
mas também de autores como o
espanhol Juan José Millás, o
colombiano Mário Mendoza e a
neozelandesa Janet Frame,
mais para o final do ano. O objetivo é publicar escritores de
destaque da cena literária nacional ou internacional, sem
restrições de região ou idioma.
Na Espanha
Onetti não reaparece inédito
só no Brasil. O conto "El Último
Viernes" (a última sexta-feira),
doado em março pela filha do
escritor, Isabel María "Litty"
Onetti, à Biblioteca Nacional
do Uruguai, estará no terceiro e
último volume das "Obras
Completas" do autor, editadas
na Espanha pela Galaxia Gutenberg/Círculo dos Leitores.
"É um texto que em vida ele
não publicou e permaneceu em
poder da filha. Porém, ao se tornar pública sua existência, é natural que apareça nas "Obras
Completas'", diz Hortensia
Campanella, que coordena desde 2006 a série com romances e
textos do autor.
Também diretora do Centro
Cultural de Espanha em Montevidéu, Campanella afirma
que o volume terá ainda outros
trechos inéditos.
"Ainda que Onetti se encarregasse de eliminar os textos
que não desejava publicar,
nesse volume incluímos alguns
que encontrei entre seus papéis", diz Campanella.
Em sua versão original, o
conto está escrito a lápis e tem
cinco páginas, concluídas por
volta de 1950. O material já havia sido exposto em 2006, em
Montevidéu, na exposição
"Onetti: una Larga Confesión"
(uma extensa confissão), acompanhado de fotos, livros, documentos e objetos do escritor.
A previsão é de que o livro
saia da gráfica ainda neste semestre. Na América Latina, sairá pela editora Sudamericana.
Folha Online
Leia trecho de tradução
inédita de "O Poço"
www.folha.com.br/091491
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