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Bienal mantém forte presença de brasileiros e prevê exibição de filmes
Curadora chama 23 nomes do Brasil, de artistas jovens a consagrados; evento começa no dia 4 de outubro e não conta mais com representações nacionais
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
A Bienal criada em torno dos
conceitos de Hélio Oiticica não
terá obras do artista. Foi divulgada, ontem, a lista dos 119 participantes da 27ª Bienal de São
Paulo, denominada "Como Viver Junto" e, mesmo contando
com 23 brasileiros, trabalhos
de Oiticica (1937-1980), inspiração do evento, não serão vistos na mostra, programada para ser aberta em 4 de outubro.
"Como desde o início eu disse, trabalho com os conceitos
do programa ambiental do Hélio. A missão de mostrar obras
como "Parangolés" ou "Metaesquemas" já foi feita. O que
me interessa é recuperar o pensamento dele dos anos 70, e por
isso vou apresentar filmes onde
ele atua ou é tema", disse ontem, por telefone, a curadora
Lisette Lagnado, que divide a
responsabilidade da mostra
com outros cinco curadores.
Segundo ela, no pavilhão serão exibidos filmes dos brasileiros Ivan Cardoso e Marcos Bonisson, "que documentam o
pensamento visionário" de Oiticica. O artista estará também
presente em um livro da Bienal.
"Tivemos autorização da família para publicar os textos canônicos do Hélio", diz Lagnado.
A Bienal, aliás, terá três publicações: um guia com textos
sobre os artistas da mostra, as
transcrições dos seminários e o
livro. "Esse livro não será um
guia ampliado, mas terá autonomia já que, por exemplo,
convidamos sete artistas para
intervirem apenas nessa publicação", afirma Lagnado. Entre
eles, estão os brasileiros Angela
Detânico e Rafael Lain, Rivane
Neuenschwander e o argentino
Jorge Macchi, também idealizador do cartaz da mostra.
Apesar de ter suprimido a
mais tradicional característica
da Bienal, as representações
nacionais, Lagnado não abandonou outra marca da exposição paulistana: a grande quantidade de artistas brasileiros,
mantendo a média de 20% do
total dos selecionados, o que
neste ano significa 23 artistas.
"Isso é de fato um manifesto,
pois a arte brasileira tem uma
contundência, e essa Bienal é
uma plataforma internacional
para ela", afirma.
Os curadores dividiram-se
entre nomes já consagrados internacionalmente, como Cildo
Meireles, Marepe e Rivane, esses dois últimos lançados no
projeto Antarctica Artes com a
Folha. Realizado em 1996, com
a participação curatorial de
Lagnado, do projeto aparecem
ainda Cao Guimarães, Jarbas
Lopes, Laura Lima, Martinho
Patrício e Mauro Restiffe. Já da
nova geração, estão, entre outros, a baiana Virgínia Medeiros, o mineiro Marcellvs L., e os
paulistas Renata Lucas e Marcelo Cidade. Um dos selecionados, o Jamac (Jardim Miriam
Arte Clube), coordenado pela
artista Mônica Nador, não estará no pavilhão. Criado como
pólo cultural na periferia da zona sul cidade, quem quiser conhecer o trabalho do Jamac terá que se deslocar até o local.
Além do pavilhão-sede, no
parque Ibirapuera, a Bienal irá
se estender também pelas salas
de exibição do cine Bombril e
do museu Lasar Segall, onde a
programação de cinema será
inaugurada com a estréia de filme do mineiro Cao Guimarães.
"Tivemos três critérios para
compor a programação: estréias, filmes de artistas que estão no pavilhão, e filmes históricos importantes para o Hélio
Oiticica", afirma Lagnado.
Entre os históricos, estão renomados cineastas como o
franco-suíço Jean-Luc Godard
e o alemão Rainer Werner
Fassbinder, que comparecem,
respectivamente com
"Sympathy for the Devil"
(1968) e "Warnung vor einer
heiligen Nutte" (Advertência
de uma santa puta, 1971).
Mesmo sem recorrer ao expediente das salas especiais ou
núcleos históricos, a Bienal terá uma razoável quantidade de
artistas que despontaram há
mais de vinte anos, como os
norte-americanos Dan Grahan,
Lawrence Weiner e Gordon
Matta-Clark e os cubanos Felix
Gonzalez-Torres e Ana Mendieta. "Chamo eles de histórico-contemporâneos, pois são
pessoas que reverberam na
produção atual e a digestão dos
trabalhos desses artistas não
acabou; já a Mendieta, que discute questões como gênero e a
terra ajuda a amarrar o Acre na
Bienal", afirma Lagnado.
Pela primeira vez sem representações nacionais, terá sido
difícil compor a mostra? "Muitos artistas aceitaram participar porque não estão representando nenhum país. Mas continuamos a ter importantes
aportes de países como EUA,
França e Holanda, entre outros, para auxiliar seus artistas.
Se o próximo curador quiser retroceder nessa questão, será
uma pena", diz ainda Lagnado.
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