São Paulo, quinta-feira, 30 de junho de 2011

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TEATRO DRAMA

Com "O Jardim", Cia Hiato coloca em cena a arte da memória

Espetáculo revela o amadurecimento e confirma as expectativas elevadas que recaíram sobre o grupo

CRÍTICO DA FOLHA

A arte da memória. "O Jardim", criação da Cia Hiato, é um espetáculo que persegue as potências que o recordar mobiliza na imaginação.
Alcança a alquimia de atualizar na cena, como presente significativo, lembranças banais compartilhadas.
O grupo revela, em seu terceiro trabalho, um rápido amadurecimento e confirma as expectativas elevadas que sobre ele recaíram.
Leonardo Moreira, mais uma vez, condensa em dramaturgia os materiais biográficos oferecidos pelos atores em um longo processo de criação e dirige com mão firme uma cena contundente.
O jardim em questão é uma metáfora que amarra três histórias, trazidas de distintos tempos para se empilharem como presenças simultâneas no espaço cênico.
Cabe remissão tanto ao " O Jardim das Cerejeiras", de Tchékhov (1860-1904) -que aciona a memória como fator compensatório às frustrações vividas- como ao conjunto de lembranças pessoais coletadas e que projetam o jardim enquanto espaço idealizado.

SÉRIES PARALELAS
As situações dramáticas enunciadas se articulam em séries paralelas.
Repetem-se três vezes exatamente iguais para cada uma das três arquibancadas que cercam a área de representação. O espectador assiste a elas em separado e vai encadeando suas conexões de pontos de vista distintos.
Essa simultaneidade de cenas gera uma polifonia em que as vozes, antes de se confundirem, combinam-se virtuosamente a cada rodada.
Assim, a correspondência entre as partes se constitui aos poucos, não só como uma sequência temporal de mais de 70 anos, mas pelas distintas perspectivas que as repetições propiciam.
Cinco atrizes e um ator, que narram tanto suas próprias vidas como a ficção que construíram com o encenador, contribuem decisivamente na qualidade da cena.
A cenografia e a iluminação também são cruciais. Marisa Bentivegna locupleta o espaço com caixas de todos os tamanhos, constituindo um fundo e demarcando os três nichos da representação.
Mais do que símbolos, as caixas surgem como objetos concretos, de onde saltam disparadores da memória.
Se o mito da caixa de Pandora aponta os perigos de se vasculhar os segredos da alma humana, "O Jardim" não teme o reconhecimento pela recordação. Esquecer protege, mas lembrar, ainda mais quando o recordado revitaliza o presente e gera grande arte, liberta.
(LUIZ FERNANDO RAMOS)

O JARDIM

QUANDO sex. e sáb., às 21h30; dom., às 18h30; até 3/7
ONDE Sesc Belenzinho (r. Pe. Adelino, 1.000; tel. 0/xx/11/ 2076-9700)
QUANTO de R$ 6 a R$ 24
CLASSIFICAÇÃO 16 anos
AVALIAÇÃO ótimo


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