São Paulo, quinta-feira, 30 de junho de 2011

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Grupo Deolinda vira sensação em Portugal com canções de protesto

"Parva que Sou", sucesso da banda, inspirou marcha em Lisboa

VAGUINALDO MARINHEIRO
ENVIADO ESPECIAL A LISBOA

Algumas pessoas afirmam que Portugal lembra o Brasil de décadas atrás. O país está em grave crise econômica, teve de pedir empréstimo ao FMI (Fundo Monetário Internacional) e jovens sem esperança migram em busca de oportunidades no exterior.
Há agora outro fator: o gosto pela música de protesto. A grande sensação musical do país é o grupo Deolinda, que usa elementos do fado para fazer crítica social.
Uma de suas músicas, "Parva que Sou", foi apresentada em shows no início do ano e se transformou no hino da chamada "geração à rasca".
São jovens com excelente nível educacional, mas que não conseguem emprego e continuavam a viver na casa dos país.
A letra diz: "Sou da geração sem remuneração/ e não me incomoda esta condição/ Que parva que eu sou!/ (...) E fico a pensar, que mundo tão parvo/ onde para ser escravo é preciso estudar".
Foi por influência dessa canção que quatro jovens desempregados resolveram convocar pela internet um protesto. Um mês depois, no dia 12 de março, 200 mil marchavam por Lisboa.
"A gente não imaginava que teria essa repercussão. Desde a primeira vez que a tocamos num show, a reação foi surpreendente. As pessoas escutavam a letra e se identificavam", disse à Folha Pedro da Silva Martins, compositor do grupo.
O Deolinda é formado por Pedro e seu irmão Luís (que tocam vários instrumentos de cordas), José Pedro Leitão (contrabaixo) e Ana Bacalhau (voz).
O primeiro disco, "Canção ao Lado", saiu em 2008 e ficou mais de dois anos entre os mais vendidos do país. O segundo, "Dois Selos e Um Carimbo", é de 2010.
Muitas das canções usam o humor para retratar a alma portuguesa. "Movimento Perpétuo Associativo", por exemplo, critica a passividade dos portugueses.
Uma estrofe diz "Agora sim, temos a força toda!/ Agora sim, há fé neste querer!/ (...) Vamos em frente e havemos de vencer!".
Na seguinte, a realidade: "Agora não, que me dói a barriga/ Agora não, dizem que vai chover/ Agora não, que joga o Benfica/ e eu tenho mais que fazer".
Em "Não Tenho Mais Razões", o alvo é a mania de reclamar. O personagem da música vai ao médico e diz: "Faça qualquer coisa, que eu não tenho mais razões para me queixar".
"Acho que toda música é de intervenção, e o artista pode optar por intervir socialmente. Não posso fazer canções virado de costas para a sociedade", diz Pedro.
O público dos shows aprova. Não vira as costas para o grupo e o aplaude de pé.


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