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Ala "cultural" perde espaço na rede pública
Afastamento dos diretores ligados ao MinC é resultado do cabo de guerra político que está na origem da TV Brasil
Financiamento da emissora está totalmente ligado à Secom, comandada pelo ministro Franklin Martins; conselho é indicado por Lula
DA REPORTAGEM LOCAL
Maio de 2007. Cenário: hotel
Nacional, em Brasília. Nessa
ocasião, os ministros Gilberto
Gil (Cultura) Fernando Hadad,
(Educação), e Franklin Martins
(Secretaria de Comunicação),
serviram de esteio à decisão
presidencial de criar a TV Brasil. Foi sob os aplausos de entidades ligadas à democratização
dos meios de comunicação que,
ali, durante o Fórum das TVs
Públicas, assinou-se a Carta de
Brasília, definidora do prumo
da rede pública.
Corta. Julho de 2009. Sede
da EBC (Empresa Brasil de Comunicação), também em Brasília. Dos três ministérios, restou,
de fato, um. Dos primeiros líderes do fórum, não sobrou ninguém. Das determinações assinaladas no documento, poucas
encontraram lugar na EBC
real.
"A carta de Brasília apontava
para a criação de um sistema
público", diz Bia Barbosa, do
coletivo Intervozes, uma espécie de ONG que fiscaliza o projeto. "A EBC, hoje, é apenas
uma emissora, não uma rede.
Ela chega a quem tem TV por
assinatura, mas o alcance pela
TV aberta é mínimo."
Os dados de audiência não
são divulgados pela emissora. O
argumento é que muitos dos
espectadores têm acesso aos
programas por parabólica. Sabe-se, porém, que os índices de
audiência estão na zona do
"traço". De um lado, é natural
que uma emissora voltada a
conteúdos diferenciados não
tenha espectadores à farta. De
outro, a falta de acesso à TV
Brasil reflete problemas de base que não foram resolvidos.
"Há um problema de capacitação de gestores, de falta de
mão de obra especializada para
operação de uma TV que adote
novos paradigmas tecnológicos
e novos modelos de negócio. E
há, ainda, problemas de infraestrutura", diz o ex-diretor
Mário Borgneth.
Arranjo desfeito
Para compreender a referência de Borgneth aos "gestores"
é preciso voltar às origens da
EBC. A TV pública veio à tona
em 2002, quando o jornalista
Eugênio Bucci assumiu a Radiobras. Um ano depois, o
MinC tomou para si o tema e
deu a largada ao processo que
culminaria no fórum de 2007.
O assunto, que de início não
ecoava pelos corredores do Palácio da Alvorada, tomou corpo
após a reeleição. Muitos tentaram tomar as rédeas do processo, mas Lula passou o bastão ao
ministro Franklin Martins.
Com o MinC, ficaram três diretorias ligadas à programação
e à constituição da rede. A presidência da empresa foi entregue à jornalista Tereza Cruvinel. Mas o arranjo se desfez. Os
diretores ligados ao MinC saíram -não sem algum alarde.
Leopoldo Nunes, ao deixar o
posto, acusou Cruvinel de "rasgar R$ 100 milhões". Ele se referia aos recursos que o MinC
disponibilizaria para a TV e que
não chegaram a ser usados.
"O perfil estatal dificulta
muito o trabalho da produção,
cria entraves ao dia a dia", diz
Orlando Senna, ex-diretor geral, referindo às exigências burocráticas que acabam por travar a engrenagem.
Borgneth, por sua vez, diz
que "houve uma clara obstrução na implantação dos novos
modelos de produção preconizados pelo projeto inicial e um
processo de concentração de
poder na presidência". Não se
cumpriram, por exemplo, as
promessas de incorporação da
produção independente e de
conteúdos vindos da sociedade.
Outra crítica diz respeito ao
conselho, indicado por Lula.
"Tinha que ser escolhido pela
sociedade", diz Jorge da Cunha
da Lima, teórico de TVs públicas. "Só assim se garantiria o
caráter público da empresa."
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