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Quanto mais leve melhor
O princípio é simples: uma espuma de clara de ovos com bechamel ou purê de frutas; sustentar a textura aerada desse clássico francês é o desafio; veja truques e onde comer
LUIZA FECAROTTA
DO GUIA DA FOLHA
Esmague morangos frescos
até obter um purê. Acrescente
açúcar de confeiteiro e, em seguida, misture com as claras
batidas em neve. Foi assim que,
no século 19, Antonin Carême,
o "cozinheiro dos reis e o rei
dos cozinheiros", apresentou
uma de suas receitas de suflê.
De preparo aparentemente
simples, esse clássico francês,
de crosta crocante e interior aerado, requer cuidados básicos
para dar certo. "Um suflê é
sempre uma espuma de clara
de ovos adicionada a um preparado [bechamel ou purê de frutas]", define o físico-químico
Hervé This, que foi à cozinha
estudar as reações científicas
dos alimentos. Manter a espuma firme é o principal desafio.
"É importante usar um ramequin [fôrma] redondo e individual, de cerâmica, para que
a distribuição do calor permaneça uniforme", diz o chef Raphael Despirite, 25, do Marcel,
que ficou conhecido pela variedade de suflês no cardápio. "Temos um forno só para assá-lo,
revestido com chapas de pedra
vulcânica em todos os lados e
que alcança até 350ºC."
Edson di Fonzo, 57, do La
Marie, que há três invernos
promove festivais de suflê, diz
que o forno é o maior empecilho para os cozinheiros amadores. "Uma dica é colocar pedras
refratárias no forno convencional uma hora antes de assá-lo."
De Paris, o chef Pascal Fresneau, 48, que comanda o clássico Le Soufflé, vai a Campinas liderar um festival de 6 a 8 de
agosto, no Bellini. Chama a
atenção para os ovos, que devem ser "armazenados em temperatura ambiente por alguns
dias" antes de serem utilizados.
Bolhas de ar
Quando ainda nem pensava
em ser chef, Despirite saía do
colégio e ia ao Marcel todas as
noites. "Brincava de fazer suflê,
comecei assim. Os cozinheiros
faziam a massa, e eu incorporava a clara em neve." Ela deve ficar sempre firme. "E quando
acaba a luz? Todo mundo bate
as claras à mão [risos]."
O acréscimo de sal às claras
otimiza o processo. Segundo
Hervé This, ele ajuda a manter
as bolhas de ar estáveis para o
suflê não desmontar.
Carla Pernambuco, do Carlota, emprega essa técnica para
bater as claras do celebrado suflê de goiabada com calda de
Catupiry. "Coloco uma pitada
de sal para que a clara não se liquefaça." A sobremesa, resgatada de uma receita de sua avó
Nair, doceira uruguaia de mão
cheia, está no topo dos pedidos:
"Vende quatro vezes mais que
qualquer sobremesa".
Outra versão doce que ganhou fama foi o suflê de cupuaçu do Marcel. Anos atrás, Despirite recebeu o chef Paulo
Martins, do paraense Lá em
Casa, para um festival. Martins
trouxe um doce de cupuaçu.
"Usei a técnica do suflê, e o
Paulo fez o doce. Hoje, é o mais
pedido depois do de chocolate."
O Le Soufflé, desde a década
de 60, serve versões da receita
num ambiente simples de Paris
-a principal combina queijo,
molho de aves, frango desfiado
e champinhons. Nas redondezas da praça Vêndome, a cozinha alcança números astronômicos: 9.000 suflês por mês.
Em São Paulo, o La Marie
também se propõe a oferecer
várias leituras do prato. Até este domingo, promove um festival temático com 14 sabores
-11 dos quais salgados. Estes
podem ser consumidos em um
menu-degustação de três sabores. Sua aposta, porém, é no de
lagosta, servido na própria cauda, cobrado individualmente.
Todas as versões levam uma
pequena porção de manteiga,
mas podem ser finalizadas à
mesa com azeites gregos, italianos ou franceses.
E as gemas que sobram? "Os
cozinheiros se divertem. Fazem cada omelete, cada fritada", conta o dono do La Marie.
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