São Paulo, quinta-feira, 30 de julho de 2009

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NINA HORTA

De volta aos livros


Ao arrebanhar livros recebidos e não lidos, tive surpresas agradabilíssimas, daquelas de começar a sorrir


GRANDE ERRO . Na última crônica, dei uma receita de quibe com músculo e toda errada. A amiga que me ensinou queria me matar, e os leitores reclamaram.
Espero, por Deus, que ninguém tenha feito. É PATINHO, claro, e eu queria escrever patinho e escrevi músculo. Não leva aquela colher de manteiga nem a cebola é ralada junto. E, com certeza, eu estava tonta com o vinho que me deram. Esqueçam, o mínimo que podem fazer por mim é esquecer. Passei vergonha das boas. Desculpas.
Então, já que não dou muito para receitas, vamos aos livros. Estão se amontoando de tal modo que um dia desses minha consciência estoura. E não deixo passar um mês sem comentar livros, eles é que são os culpados, estão saindo numa velocidade aterradora. O mais interessante de tudo é que, ao arrebanhar livros recebidos e não lidos, tive surpresas agradabilíssimas, daquelas de começar a sorrir de alegria.
"As Receitas de Mme Castro", editora P55, de uma coleção chamada Cartas Bahianas. Gostoso, vindo de uma Bahia de hoje, de uma gente de hoje, que faz comida de hoje (não só baiana) e compra nos lugares que existem hoje, endereços que rapidamente aproveitamos. Linguagem fluida, interessante, bem escrito e nada parece gratuito, nem as alusões à cozinha nem a vidinha de todo dia de um grupo de pessoas nem as seis receitas. A capa é como um envelope, e gostaríamos de receber a carta bahiana todos os dias.
"Gourmet", de Jiro Taniguchi & Masayuki Qusumi, da editora Conrad. Nessa altura dos acontecimentos, um gibi! Vocês sabem o que é um gibi? Uma revista de história em quadrinhos, só que essa é para adultos e relata as agruras e felicidades de um homem à procura de lugares para comer no Japão. O cliente sempre com fome, fome que compartilhamos à medida que ele procura restaurantes típicos e o que comer, e erra e acerta. Cada restaurante vai lhe oferecer um prato típico, e ele refletirá sobre o que está comendo junto conosco. O livro tem um ótimo glossário ensinando o nome dos pratos, no fim, não no começo, pois o livro é de trás para frente, começa do fim. Adorei ler um gibi de comida feito por um ilustrador de belo traço.
"Satyricon", de Petrônio, da editora Cosac Naify. Recebi esse livro há bastante tempo e o perdi. Desapareceu e não havia quem achasse. Um dia, me queixei do sumiço com duas meninas que trabalhavam comigo, e foi uma risada sem fim. Tinham escondido. A imagem da capa acho que é Príapo, representado com o falo ereto e em proporções exageradas, diria, divinas ou míticas.
Bom, claro que não é um livro de cozinha, todo mundo sabe, e a crítica dele vai além das minhas chinelas, tenho que deixar a apreciação a um erudito qualquer, tão cheio de histórias e interpretações ele é. Mas pode-se ler com prazer e temos que tomar conhecimento do banquete de Trimalquião. Ninguém que se interessa por comida, pela crítica e decadência das mesas dos "nouveaux riches" pode passar batido pela descrição desse banquete. Vale.
"Mordidas Sonoras", da editora Conrad, de Alex Kapranos, da banda Franz Ferdinand, de rock. O jornal "The Guardian" pediu a Kapranos, um roqueiro gourmet, que contasse a história de suas comilanças pelas turnês mundiais. E Alex cumpriu a missão, um livrinho para divertir, interessante, surpreendente, bastante bom.
"O Melhor do Comidinhas", de Alessandra Blanco (Panda Books). Ela é a Alê do blog Comidinhas (colunistas.ig.com.br/comidinhas). É um pequeno guia (bonito) de lugares quase desconhecidos, com comidas muito boas que ela foi descobrindo e que sabe descrever como ninguém. A cada capítulo você tem vontade de levantar, pegar a bolsa e ir atrás. De charrete, de táxi ou de avião. E comer o que ela sugeriu.
Semana que vem tem mais.

ninahorta@uol.com.br


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