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DISCO/CRÍTICA
Álbum de estréia flagra o artista antes da "roda viva"
DA REPORTAGEM LOCAL
Não, não há nenhum segredo escondido dentro de
"Tom Zé". Ele é, simplesmente (e
isso não é pouco), uma coleção de
12 canções tropicalistas que quase
ninguém conhece, porque haviam sido apagadas pelo tempo.
Ali, Tom Zé parecia tropicalista
atípico, mais nacionalista que internacionalista. Ostentava tradicionalismo e candura num grau a
mais que seus pares. Isso transparece no coro à antiga que abre
"São São Paulo Meu Amor", no
iê-iê-iê orquestrado "Não Buzine
Que Eu Estou Paquerando", na
provocação tímida ao samba em
"Quero Sambar Meu Bem", na
moda caipira "Sabor de Burrice".
Mas havia algo de extraordinário no ar. Matuto migrado à capital regional e depois à nacional,
fez de si astuto cronista urbano,
fundando entre sertão e cidade
seus primeiros conflitos artísticos. Em parte, aparecia tradicional, interiorano (é o caso da delícia "Namorinho de Portão", que
Gal gravou no ano seguinte) e engajado como Geraldo Vandré (letras políticas não faltavam: "Sabor de Burrice", "Profissão Ladrão", "Sem Entrada e sem Mais
Nada", "Camelô"...).
Por outro lado, flertava com as
luzes de néon criticadas na capa
colorida e nas canções, brincava
de ídolo iê-iê-iê, vencia festival,
ajudava a configurar a canção urbana tropicalista, justamente ele
que havia chegado de Irará, na
Bahia. Era amor e era ódio.
Vista hoje, a metáfora lembra a
que Chico Buarque criou para sua
peça "Roda Viva", encenada em
68 pelo Teatro Oficina. O protagonista era um artista que, na perseguição ao sucesso de cada moda,
primeiro simulava a politização
de um Vandré, depois a alienação
de um Roberto Carlos. Tropicalista, caía em danação no desenlace,
tragado pelo "sistema".
Tom Zé foi, provavelmente, o
protagonista real de "Roda Viva".
À diferença do Ben Silver da peça,
entretanto, possuía inerentes, e
não por marketing, as características de Vandré e as de Roberto, as
de Chico e as de Caetano e Gil.
A história, até dado momento,
não aceitou absorvê-lo (referência demais para o mercado?), o
que já parece também superado.
Tanto é que estão de volta à circulação (dona Sony, quem diria...)
outras canções tropicalistas, mais
descompassadas, mas tão presentes quanto as de Caetano, Gil, Torquato, Rita e Arnaldo, Capinan.
(Ah, como sempre, nem tudo é
perfeito: incluíram letras e textos,
mas adulteraram a capa original,
dando-lhe um close destruidor da
idéia inicial. Haja.)
(PAS)
Tom Zé
Lançamento: Sony
Quanto: R$ 20, em média
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