São Paulo, quarta-feira, 30 de agosto de 2000


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SEMINÁRIO
"O Lugar do Livro: entre a Nação e o Mundo", que acaba hoje, discute a existência do livro na era eletrônica
Tecnologia divide opinião de escritores

CRISTIAN KLEIN
DA SUCURSAL DO RIO

Qual o futuro do livro na era eletrônica? A resposta dividiu os debatedores do assunto, anteontem, na Academia Brasileira de Letras (ABL), no centro do Rio.
O escritor e membro do Conselho Editorial da Folha Carlos Heitor Cony apontou o livro virtual como uma etapa natural da evolução tecnológica. "No princípio, escrevia-se em pedra, em peles de animais, em papiros. O livro impresso como conhecemos desde Gutemberg não está superado. Mas vai se tornar artesanal, uma evidência do estágio de conhecimento do nosso mundo."
A escritora Lygia Fagundes Telles, por outro lado, lembrou que uma tecnologia não substitui a outra. "São ameaças antigas. Essas mortes anunciadas não acontecem. Diziam que o fim do cinema estava próximo quando criaram a televisão. O rádio continua até hoje", disse.
O debate, parte do seminário internacional "O Lugar do Livro: entre a Nação e o Mundo", contou também com o cartunista Ziraldo e com a professora Nízia Villaça, da Escola de Comunicação da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
O cartunista Ziraldo defendeu a idéia de que o formato do livro, como objeto, é eterno. Mesmo que predomine o livro virtual. "O ato de ler e virar uma página reproduz a própria vida, com a noção de tempo e espaço. Quando lemos um texto, estamos diante do espaço; quando viramos a página, observamos o tempo."
Cony vislumbrou a possibilidade de, num futuro próximo, ser possível acessar um livro eletrônico de não "apenas" dez volumes, como é possível atualmente, mas "toda a biblioteca humana", por meio de um livro virtual da espessura de uma folha de papel.
O escritor ainda relativizou a questão da materialidade do livro. "Não podemos esquecer que Sócrates e Jesus Cristo não deixaram nada escrito em livros. Seus seguidores é que difundiram suas idéias. No entanto eles não deixam de ser fundadores do pensamento universal", disse.
Ziraldo mencionou uma estimativa de que o Brasil teria, hoje, 6 milhões de internautas. Mas ressaltou o sucesso de vendas que vem fazendo, em todo o mundo, a série infantil "Harry Potter", da escritora escocesa J.K. Rowling.
A professora Nízia Villaça, autora de uma tese sobre o livro eletrônico, referiu-se a três mitos que estariam ligados à dicotomia livro impresso versus livro virtual: o mito de Robinson Crusoé, em torno da necessidade da organização do mundo e do discurso ordenado; o mito de Babel, "que encerra a resistência à tradição da escritura"; o mito de Frankenstein, a respeito do dilema homem versus máquina. "Mesmo com a facilidade de manipulação, armazenamento e interatividade, o e-book (o livro eletrônico) é uma interrogação."
Lygia disse que continua acreditando no livro impresso. "Acredito na imortalidade da alma e na do livro. Como dizia Guimarães Rosa, devagar já é pressa", citou.
O seminário, organizado pela Unesco e pela Fundação Biblioteca Nacional, termina hoje.

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