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SEMINÁRIO
"O Lugar do Livro: entre a Nação e o Mundo", que acaba hoje, discute a existência do livro na era eletrônica
Tecnologia divide opinião de escritores
CRISTIAN KLEIN
DA SUCURSAL DO RIO
Qual o futuro do livro na era
eletrônica? A resposta dividiu os
debatedores do assunto, anteontem, na Academia Brasileira de
Letras (ABL), no centro do Rio.
O escritor e membro do Conselho Editorial da Folha Carlos
Heitor Cony apontou o livro virtual como uma etapa natural da
evolução tecnológica. "No princípio, escrevia-se em pedra, em peles de animais, em papiros. O livro impresso como conhecemos
desde Gutemberg não está superado. Mas vai se tornar artesanal,
uma evidência do estágio de conhecimento do nosso mundo."
A escritora Lygia Fagundes Telles, por outro lado, lembrou que
uma tecnologia não substitui a
outra. "São ameaças antigas. Essas mortes anunciadas não acontecem. Diziam que o fim do cinema estava próximo quando criaram a televisão. O rádio continua
até hoje", disse.
O debate, parte do seminário
internacional "O Lugar do Livro:
entre a Nação e o Mundo", contou também com o cartunista Ziraldo e com a professora Nízia
Villaça, da Escola de Comunicação da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
O cartunista Ziraldo defendeu a
idéia de que o formato do livro,
como objeto, é eterno. Mesmo
que predomine o livro virtual. "O
ato de ler e virar uma página reproduz a própria vida, com a noção de tempo e espaço. Quando
lemos um texto, estamos diante
do espaço; quando viramos a página, observamos o tempo."
Cony vislumbrou a possibilidade de, num futuro próximo, ser
possível acessar um livro eletrônico de não "apenas" dez volumes,
como é possível atualmente, mas
"toda a biblioteca humana", por
meio de um livro virtual da espessura de uma folha de papel.
O escritor ainda relativizou a
questão da materialidade do livro.
"Não podemos esquecer que Sócrates e Jesus Cristo não deixaram
nada escrito em livros. Seus seguidores é que difundiram suas
idéias. No entanto eles não deixam de ser fundadores do pensamento universal", disse.
Ziraldo mencionou uma estimativa de que o Brasil teria, hoje,
6 milhões de internautas. Mas ressaltou o sucesso de vendas que
vem fazendo, em todo o mundo, a
série infantil "Harry Potter", da
escritora escocesa J.K. Rowling.
A professora Nízia Villaça, autora de uma tese sobre o livro eletrônico, referiu-se a três mitos que
estariam ligados à dicotomia livro
impresso versus livro virtual: o
mito de Robinson Crusoé, em torno da necessidade da organização
do mundo e do discurso ordenado; o mito de Babel, "que encerra
a resistência à tradição da escritura"; o mito de Frankenstein, a respeito do dilema homem versus
máquina. "Mesmo com a facilidade de manipulação, armazenamento e interatividade, o e-book
(o livro eletrônico) é uma interrogação."
Lygia disse que continua acreditando no livro impresso. "Acredito na imortalidade da alma e na
do livro. Como dizia Guimarães
Rosa, devagar já é pressa", citou.
O seminário, organizado pela
Unesco e pela Fundação Biblioteca Nacional, termina hoje.
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