São Paulo, sexta-feira, 30 de agosto de 2002

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MÚSICA

Sexto (e conturbado) disco do Wilco chega enfim ao Brasil na próxima semana

Sinais da América

Divulgação
Integrantes do grupo Wilco, baseado na cidade de Chicago, que lança no Brasil seu sexto álbum se estúdio, "Yankee Hotel Foxtrot"


DIEGO ASSIS
DA REDAÇÃO

Grandes avenidas, luzes que piscam, portas em chamas, caixas registradoras, coca-cola diet e cinzas. Não são só o azul, o vermelho e o branco que compõem as cores da bandeira americana pintada pelos músicos do Wilco em seu mais recente álbum.
"Yankee Hotel Foxtrot", nas palavras de Jeff Tweedy, 35 anos, cantor, guitarrista e principal compositor do grupo baseado em Chicago, é um mosaico de tudo o que a América possa ter de bom -os shows de verão ao som de Kiss, às margens de um rio qualquer- e de ruim -a solidão, o consumismo e, pior, a falta de comunicação.
Produzido e gravado em um dos momentos mais conturbados da relativamente curta história do Wilco, o sexto CD do grupo, que estreou em 95, chegou a ser recusado por sua antiga gravadora, Reprise, que o considerou "anticomercial". No meio do caminho, o então baterista, Ken Coomer, foi trocado por Glenn Kotche; o multiinstrumentista Jay Benett, um dos principais pilares do quarteto, foi despedido por "atrapalhar a dinâmica da banda"...
"Levamos um tempão no estúdio gravando e regravando as canções, bagunçando e rearranjando várias coisas", lembra Tweedy, que, após a recusa da Reprise, comprou de volta as fitas originais e assinou contrato com o selo Nonesuch. "Foram dois anos nesse processo. Mas, quando entregamos o material para o Jim [O'Rourke, produtor do Sonic Youth] mixar, o disco ficou pronto em duas semanas."
Finalizado em julho de 2001, mas lançado só em abril deste ano nos EUA, "Yankee Hotel Foxtrot" também quase não sai no Brasil. A mesma Warner, que distribui a Reprise e, pasmem, a Nonesuch, chegou a dizer que não tinha interesse em fazer o lançamento por aqui. As paradas norte-americanas mudaram seus planos: "Não sei se alcançamos os padrões do 'NSync ou da Madonna, mas, de qualquer forma, foi o nosso álbum mais vendido até agora", ironiza Tweedy.
Mas, afinal, o que poderia ser tão arriscado assim para a gravadora? Uma letra que diga "é uma guerra em outra guerra/ você tem que perder/ você tem que aprender a morrer/ se quiser sobreviver"? Ou outra que fale em "arranha-céus chacoalhando" e "portas em chamas"? Nada disso -até porque elas já estavam escritas antes dos ataques de 11 de setembro. O que incomodou parece ter sido mesmo a barulheira, o não-convencionalismo.
"Tentamos colocar ali só o que nos entusiasmava. Não prestamos muita atenção ao que "deve ser feito" ou não. A liberdade musical é uma batalha. Não vejo graça em seguir fórmulas pré-fabricadas de como fazer um bom disco de rock", diz o músico, que, mesmo antes de acertar com o novo selo, já disponibilizava as novas faixas pela internet. "Foi uma grande ferramenta para que as pessoas conhecessem o disco e cantassem junto nos shows. Temos nosso próprio site e ninguém falou que não podíamos colocar [as novas músicas] de graça ali."
"Acho que muitos colegas têm medo de como as coisas podem mudar de uma hora para outra. Algo como "aqui está o nosso disco, vocês podem ouvi-lo de graça, não venderá mais nada e nossa carreira está arruinada". Isso é o pior que pode acontecer com uma banda, ver o seu potencial comercial diminuir? Para mim, essa é uma grande mentira", afirma.

Saga documentada
Tão diretos quanto as palavras de Tweedy, os detalhes e os bastidores da gravação de "Yankee Hotel Foxtrot" aparecem no documentário "I Am Trying to Break Your Heart" -que dá nome também à faixa de abertura do disco.
Dirigido pelo fotógrafo Sam Jones, o filme, de pouco mais de hora e meia de duração, narra a eterna batalha do "comercial x artístico" vivida na pele pelos integrantes do Wilco. Além disso, traz cenas em preto-e-branco da banda ensaiando e registros dos últimos shows em turnês pelos Estados Unidos e pela Europa.
Não há previsão de exibição do documentário no Brasil.


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