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Barreto prepara "segundo tratamento" do projeto
DA REPORTAGEM LOCAL
O produtor cinematográfico
Luiz Carlos Barreto formou um
grupo de "pessoas que operam na
atividade e têm certa liderança
empresarial ou artística" para rever o projeto formulado pelo
MinC de criação da Ancinav .
Barreto diz que atende "uma
convocação" do ministro da Cultura, Gilberto Gil, e reproduz o
diálogo entre ambos. "Gil me disse: "Sei o que o cinema não quer,
mas ainda não sei o que o cinema
quer. Espero saber". Perguntei: isso é um desafio ou uma convocação? Ele: "Uma convocação"."
A primeira reunião do grupo de
Barreto ocorreu na sexta passada,
no Rio de Janeiro. Entre os convidados do produtor estão quatro
dos nove titulares do Conselho
Superior de Cinema: André
Sturm (cineasta, distribuidor e
exibidor), Carlos Eduardo Rodrigues (diretor da Globo Filmes),
Luiz Severiano Ribeiro (exibidor)
e Roberto Farias (cineasta).
Também foram chamados o
presidente da rede Cinemark,
Valmir Fernandes, e os diretores
das distribuidoras Columbia (Rodrigo Saturnino) e Universal (Jorge Peregrino). Os três já se manifestaram, inclusive em notas oficiais, contra o projeto do MinC.
Foram convidados também críticos moderados da proposta, como o presidente do Sindicato da
Indústria do Cinema e do Audiovisual do RJ, Paulo Thiago, e
apoiadores abertos, como o presidente do Congresso Brasileiro de
Cinema, Geraldo Moraes.
O cineasta Cacá Diegues, opositor enfático do texto do MinC,
"vai se integrar ao grupo quando
chegar de viagem", diz Barreto.
Diegues volta ao Brasil amanhã.
Com mais duas reuniões, Barreto estima concluir as "emendas"
ao projeto do Minc. "Vamos estruturar essas emendas considerando aquilo que é bom no projeto do governo e aquilo que é bom
no projeto antigo da Ancinav, que
ainda existe no papel." Sobre o
encaminhamento do resultado,
diz: "O governo apresentou um
primeiro tratamento. O segundo
será este nosso. E o terceiro, do
Conselho Superior de Cinema".
O "projeto antigo" que Barreto
cita é o formulado no governo
Fernando Henrique Cardoso
(1995-2002) pelo Gedic (Grupo
Executivo de Desenvolvimento
da Indústria Cinematográfica),
que ele e Diegues integraram.
Apenas parte das sugestões do
Gedic foram incorporadas na medida provisória que criou a Ancine (Agência Nacional do Cinema), em 2001. O grupo havia sugerido a criação de uma agência
reguladora do cinema e do audiovisual (Ancinav), a criação de taxas sobre a venda de aparelhos de
TV, vídeo e DVD, para fomentar a
produção nacional, e a destinação
de 4% da receita publicitária das
TVs para investimentos em co-produção e aquisição de filmes de
longa-metragem nacionais.
Barreto diz que no atual projeto
do MinC "há coisas inibidoras da
atividade, não fomentadoras". Ele
cita "a copiagem limitada a 200
cópias" [o projeto prevê taxa de
R$ 600 mil para lançamentos estrangeiros acima de 200 cópias]
como "uma experiência feita nos
anos 70, que deu errado".
O produtor afirma também que
"a taxa sobre o ingresso, indiscriminadamente, provoca mais recessão, pelo aumento do preço" e
diz que "o caminho da legislação
tem de ser o do fomento, e não o
de proibições e penalizações".
É provável que o grupo de Barreto inverta o foco do projeto do
governo -da instituição de novas taxas para a concessão de incentivos à atividade.
O diretor Roberto Farias, que
participa das discussões, afirma:
"Dentro dos incentivos fiscais que
o governo oferece anualmente para os diversos setores, a cultura
obtém 1,4%, e o audiovisual representa uma pequena parcela
disso. Tirar do setor mais recursos
para financiar o próprio setor é
uma coisa que, na opinião de
muitos de nós, não faz sentido".
Manoel Rangel, assessor especial do MinC, afirma que Barreto
"está colaborando" com o ministério. "Desde o primeiro momento ele se colocou à disposição do
ministério para fazer com que a
discussão do projeto se dê sobre o
que ele tem de objetivo, em vez de
discutir os adjetivos", diz.
(SA)
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