São Paulo, sábado, 30 de agosto de 2008

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LIVROS

Historiador tenta abarcar o Brasil em mil páginas

Com a mulher, Carlos Guilherme Mota lança uma história do país e reedita tese dos anos 70

Livro pega carona na moda de história para leigos que teve início com os lançamentos referentes aos 500 anos do Descobrimento


SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL

O historiador Carlos Guilherme Mota causou certa sensação no meio acadêmico brasileiro em 1977, quando publicou sua tese de livre-docência, "Ideologia da Cultura Brasileira". A obra, definida então por Antonio Candido como "livro do contra", é relançada agora pela editora 34. O ambicioso ensaio tentava analisar os fundamentos ideológicos por trás das interpretações do Brasil entre 1933 e 1974.
Em seus trabalhos seguintes o historiador não repetiu o mesmo êxito, mas foi construindo uma carreira de professor universitário, passando pelo departamento de história da Universidade de São Paulo, a Fundação Getulio Vargas e o Mackenzie. Também dirigiu o Instituto de Estudos Avançados da USP e foi professor-visitante de algumas universidades européias e norte-americanas.
Durante essa trajetória também ganhou fama de polêmico, acusado aqui e ali de gostar demais de aparecer na mídia.
Agora, com a mulher, Adriana Lopez, Mota propôs-se a contar a história do Brasil num só volume, "História do Brasil: Uma Interpretação", imenso catatau de 1.056 páginas, que será lançado no mês que vem.
"Queríamos fazer um livro que atingisse o público comum, que fosse acessível ao meu dentista, por exemplo", diz Mota. Para o casal, desde 2000, quando se comemoraram os 500 anos do Descobrimento do Brasil, vem-se formando um público leitor de obras de história fora do mundo acadêmico.
Mota elogia o best-seller de Laurentino Gomes sobre os 200 anos da vinda da corte ao Brasil ("1808", ed. Planeta). E crê que o ideal é chegar a um meio-termo entre o tipo de linguagem utilizada por ele e a adotada por Eduardo Bueno, gaúcho que lançou a moda de "história para não-especialistas" com sua exitosa série sobre o início da colonização.
Mota conta que, por causa da empreitada, releu boa parte dos autores fundamentais de sua formação, como C.R. Boxer, Florestan Fernandes, Evaldo Cabral de Melo, José Murilo de Carvalho e Caio Prado Junior.

"Muito atrasado"
Sobre Prado Jr., a quem conheceu pessoalmente, conta uma anedota. Diz que o conheceu nos seus últimos anos de vida. E que, em certa ocasião, perguntou a ele se poderia fazer uma síntese da história do Brasil, em poucas palavras. O autor de "Formação do Brasil Contemporâneo" teria respondido, pausadamente: "O Brasil é um país... muito atrasado". Mota então se angustiou: "Que mais, Caio? Eu queria algo que pudesse guardar para a posteridade". E então veio uma segunda frase: "Toda história do Brasil sempre foi um negócio".
Em "História do Brasil: Uma Interpretação", Mota e Lopez partem dessa idéia, e desenvolvem conceitos tomados de Raymundo Faoro e Florestan Fernandes para afirmar que o modelo autocrático burguês é um legado colonial do qual até hoje o Brasil é tributário.
"No período atual, esse modelo autocrático burguês se mostra nitidamente consolidado. Temos o Fernando Henrique Cardoso com suas negociações, sua idéia de conciliação pelo alto, de costura feita por cima. E Lula não consegue mudar a política econômica. A mobilização que ele consegue fazer fica ainda no nível de um esquema assistencialista."


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