São Paulo, domingo, 30 de agosto de 2009

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Seriados precisam decidir qual a hora do final amargo

"House", na sexta temporada, dá sinais de cansaço e só cria variantes de situações; é preciso admitir que o melhor já foi

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Um problema delicado que se coloca para os criadores de séries é: quando acabar?
Seriados de TV têm se mostrado um ótimo instrumento para desenvolver personagens, algo que o cinema contemporâneo não permite aos filmes de grande orçamento.
A série, por natureza, oferece a seus realizadores essa matéria tão delicada: o tempo. Do momento em que é aceita pelo espectador, este se torna cúmplice dos desdobramentos e da crescente complexidade que adquirem as situações e os personagens do programa.
"A Sete Palmos" me parece o exemplo de um seriado que, ao chegar à quarta temporada, não tinha mais nada de novo a dizer ao espectador e passou a patinar, virou uma espécie de novelão à espera de um final capaz de redimi-la.
Talvez por excesso de precaução, "Deadwood" terminou quando o antigo garimpo, que ao final do terceiro ano começava a se tornar uma cidade normalizada, se aproximava de uma eleição decisiva. Seus idealizadores recusaram-se até mesmo a fechar a trama, não se dando ao trabalho de definir qual seria o resultado da tal votação política.

Mau humor eterno
E quanto a "House"? O genial médico poderia ainda prodigar suas tiradas cheias de incorreção política e ótimo mau humor por um bom tempo.
Mas, por mais que seja doloroso, é preciso admitir, o melhor já passou: tudo o que temos são variantes adaptadas a novas situações.
O mesmo se pode dizer dos coadjuvantes. Por temor à monotonia, a primeira equipe de médicos de "House" foi desfeita em dado momento. Deu lugar a uma sonolenta escolha de novos assistentes.
Fixada a nova equipe, a anterior acabou, pouco a pouco, por voltar à ativa, ou pelo menos a manter-se de plantão, nas imediações, para eventuais emergências -como indicam os rumores na internet, eles voltarão realmente a incorporar a trama principal do seriado.
O próprio House, vamos admitir, dá sinais de cansaço. Todo o final da quinta temporada, puxado a alucinações pouco sutis e dedicado a desenvolver a progressiva insanidade do prodigioso doutor, indicava um cansaço não tanto dos personagens quanto dos roteiristas em criar situações originais sem abandonar os elementos-chave formulados ao longo do tempo.
As séries trazem o inconveniente de levar o espectador a uma longa e perversa familiaridade com os personagens, ao fim da qual eles se tornam como que pessoas mesmo, das quais ele não quer se separar, apesar da fadiga.
Encerrá-la é uma decisão dolorosa, não muito diferente da de dar fim aos namoros: é sempre amarga, mas, chega uma hora, indispensável.


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