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Seriados precisam decidir qual a hora do final amargo
"House", na sexta temporada, dá sinais de cansaço e só cria variantes de situações; é preciso admitir que o melhor já foi
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Um problema delicado
que se coloca para os
criadores de séries é:
quando acabar?
Seriados de TV têm se mostrado um ótimo instrumento
para desenvolver personagens,
algo que o cinema contemporâneo não permite aos filmes de
grande orçamento.
A série, por natureza, oferece
a seus realizadores essa matéria tão delicada: o tempo. Do
momento em que é aceita pelo
espectador, este se torna cúmplice dos desdobramentos e da
crescente complexidade que
adquirem as situações e os personagens do programa.
"A Sete Palmos" me parece o
exemplo de um seriado que, ao
chegar à quarta temporada, não
tinha mais nada de novo a dizer
ao espectador e passou a patinar, virou uma espécie de novelão à espera de um final capaz
de redimi-la.
Talvez por excesso de precaução, "Deadwood" terminou
quando o antigo garimpo, que
ao final do terceiro ano começava a se tornar uma cidade
normalizada, se aproximava de
uma eleição decisiva. Seus idealizadores recusaram-se até
mesmo a fechar a trama, não se
dando ao trabalho de definir
qual seria o resultado da tal votação política.
Mau humor eterno
E quanto a "House"? O genial
médico poderia ainda prodigar
suas tiradas cheias de incorreção política e ótimo mau humor por um bom tempo.
Mas, por mais que seja doloroso, é preciso admitir, o melhor já passou: tudo o que temos são variantes adaptadas a
novas situações.
O mesmo se pode dizer dos
coadjuvantes. Por temor à monotonia, a primeira equipe de
médicos de "House" foi desfeita em dado momento. Deu lugar a uma sonolenta escolha de
novos assistentes.
Fixada a nova equipe, a anterior acabou, pouco a pouco, por
voltar à ativa, ou pelo menos a
manter-se de plantão, nas imediações, para eventuais emergências -como indicam os rumores na internet, eles voltarão realmente a incorporar a
trama principal do seriado.
O próprio House, vamos admitir, dá sinais de cansaço. Todo o final da quinta temporada,
puxado a alucinações pouco sutis e dedicado a desenvolver a
progressiva insanidade do prodigioso doutor, indicava um
cansaço não tanto dos personagens quanto dos roteiristas em
criar situações originais sem
abandonar os elementos-chave
formulados ao longo do tempo.
As séries trazem o inconveniente de levar o espectador a
uma longa e perversa familiaridade com os personagens, ao
fim da qual eles se tornam como que pessoas mesmo, das
quais ele não quer se separar,
apesar da fadiga.
Encerrá-la é uma decisão dolorosa, não muito diferente da
de dar fim aos namoros: é sempre amarga, mas, chega uma
hora, indispensável.
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