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Autor quer fazer novela das oito "ao vivo"
Manoel Carlos, 76, diz que envelhecer gera "urgência", e tentará ligar notícias do "Jornal Nacional" à trama de "Viver a Vida"
Novela estreia no próximo dia 14 e tem elementos consagrados pelo autor, como a protagonista Helena e histórias de casais ricos
AUDREY FURLANETO
DA SUCURSAL DO RIO
"Envelhecer gera uma angústia, uma apreensão porque, por
mais que viva, você tem pouca
vida pela frente, não é?", diz
Manoel Carlos, apoiando o
queixo sobre a bengala de madeira que usa para caminhar
nas ruas do Leblon, bairro onde
vive, na zona sul do Rio.
"Eu não me considero uma
pessoa com medo de morrer,
mas, mesmo sem o medo, você
tem uma certa urgência, uma
certa pressa", diz. Autor de sucessos de audiência no horário
das oito da Globo, ele assina
agora a novela "Viver a Vida",
que estreia no próximo dia 14.
E completa: "É aquele negócio: um dia a mais é um dia a
menos. Gera uma intranquilidade. Mas, eu, particularmente,
tenho encontrado bastante paz
nesse sentido. Porque estou
com 76 anos, escrevo 12, 14 horas por dia e tenho disposição
para o trabalho".
Ao todo, Maneco, como é conhecido, escreve de 40 a 50 páginas diariamente para a nova
novela, que, apesar de suas aflições com a velhice, terá a mais
jovem Helena da história de
suas protagonistas. A personagem praticamente fixa nas tramas do autor desde "Baila Comigo" (1986) será vivida agora
por Taís Araújo.
De sua "urgência", a novela
vai herdar "capítulos quase
quentes". "Queria ver o capítulo hoje e escrever o de amanhã", diz ele, que, minutos antes, apontava a ansiedade como
um problema ao envelhecer:
"Viver a vida é estar em paz
com esse universo meu, estar
tranquilo, sem grandes ansiedades. O problema é a ansiedade. Estar cheio de desejos. Isso
é que, às vezes, gera intranquilidade. É preciso estar calmo".
Novela verdade
Maneco, que já costumava
incluir "várias coisas por adendos no dia da gravação ou um
dia antes", quer agora "estreitar
ao máximo a distância entre escrever e produzir".
A novela quase ao vivo do autor exige agilidade -e paciência- de seu elenco: em "Páginas da Vida" (2006), os atores
reclamavam por ter de decorar
os tais adendos no dia ou horas
antes da gravação.
Em "Viver a Vida", ele diz que
já avisou Camila Morgado, que
fará o papel de uma comentarista de economia, da possibilidade de entrar até mesmo ao vivo. "Ela sabe disso: pode ser
chamada se acontecer uma coisa muito grave na economia",
afirma.
Segundo ele, o diretor da trama, Jayme Monjardim, aceitou
a proposta. Já quanto à viabilidade técnica, o autor é mais vago: "Pode ser ao vivo, pode não
ser. Se der para gravar 15 minutos antes, pode ser. Normalmente não dá".
Outra de suas ideias é ligar
uma notícia do "Jornal Nacional" a "Viver a Vida". "A crise
no Senado, a crise econômica, a
morte do Michael Jackson, é
evidente que eu aproveitaria
[na trama]. É tão fácil meter um
ator no estúdio e fazer um comentário", diz o autor.
Talvez por isso Maneco goste
de dizer que suas novelas são
"verossímeis". "Tenho o rótulo
por aí de fazer novelas realistas.
Eu não acho. Faço novelas coerentes com a realidade. Ninguém voa nas minhas novelas."
Mesmo assim, ele afirma
que, por ser obra de ficção, "a
novela se presta a qualquer coisa". "A Record não está fazendo
uma novela por tanto tempo
sobre seres mutantes? Qual é o
problema? Acho absolutamente válido. Tanto é válido que dá
audiência", diz.
Longe de ter mutantes, "Viver a Vida" é uma espécie de
mais do mesmo do autor: os
protagonistas, como em tramas
anteriores, são ricos e apaixonados, há personagens com
dramas de saúde etc.
"No capítulo cinco, os espectadores já dizem: esse cara vai
ficar com aquela moça. Eles sabem tudo, do hábito de ver novela. Porque as novelas têm códigos imutáveis", diz.
Não é sinal de que as tramas
são previsíveis? "Por que é que
vocês se surpreendem tanto
com isso? Cada autor faz o que
quer", conclui.
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