São Paulo, domingo, 30 de agosto de 2009

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BIA ABRAMO

A curva de interesse e o hábito de assistir


Parece que cada vez menos importa a história da novela: o destino já está traçado


AS TRAJETÓRIAS das novelas do horário mais nobre da Globo, o das "oito" -que são exibidas às 21h e em geral adentram para além das 22h-, parecem seguir um padrão. Mesmo que precedidas por ampla divulgação, tanto pela mídia da emissora como pela mídia espontânea (notícias e reportagens espalhadas por quase todos os veículos de comunicação), começam com audiência abaixo das expectativas.
As razões são tantas -a história é ruim, o/a ator/atriz não segura o personagem, a ambiência é esquisita, até a abertura e a música-tema já foram consideradas responsáveis- quanto as variações em cima dos mesmos temas que costumam constituir a "alma" dos novelões.
Aos poucos, autores, produção e elenco vão encontrando o caminho para manter os televisores ligados. Pode demorar mais ou menos, exigir guinadas radicais, requerer um número maior ou menor de cenas de impacto, mas, de maneira geral, elas se aprumam. Na reta final, acabam por conquistar uma fidelidade maior, bem como outras fatias do público que até então estavam mais ou menos indiferentes àquela trama.
Essa breve e algo imprecisa descrição do ritmo de uma novela pode ser interpretada de diversas maneiras. Qualquer uma delas, certamente, terá de levar em conta a permanência do gênero, no mínimo como um hábito. Tenta-se resistir, mas, depois, sucumbe-se.
Há, entretanto, algumas indagações que poderiam levar a questões mais interessantes. Quem, no sentido de quais grupos sociais, etários ou de gênero, relutam inicialmente? Por que o fazem? O que esses indivíduos gostariam de assistir, que não a novela? O que está nela que demora a ser atraente para parte dos telespectadores? E quando, finalmente, se rendem aos poderes das novelas, quais são os motivos? A novela "melhora" de alguma forma na percepção desses grupos? Ou é uma espécie de comportamento de manada, ou seja, vê-se a novela simplesmente por que está se falando tanto dela?
E, bastante importante, em que medida a cobertura extensiva e intensiva que recebe a novela, de veículos especializados ou não, interfere nessa espécie de "conversão"?
Vendo a novela, qualquer uma, à distância, parece que cada vez menos importam a história, os personagens, o maldito merchandising social, a perfídia da vilã ou a bondade da mocinha: o destino já está, de certa forma, traçado. Não importa quanta pestana se gaste, a curva do interesse não varia.
Agora vendo a novela, como esta que está terminando em mais duas semanas, mais de perto, a gente se arrisca a morrer de tédio.

biabramo.tv@uol.com.br

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