São Paulo, segunda-feira, 30 de agosto de 2010

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"Machete" é fantasia, mas tem muitas verdades, diz diretor

Para Robert Rodriguez, coincidência de estreia do filme com fatos envolvendo imigrantes mostra "timing" ótimo

Personagem principal é ex-agente federal do México que acaba envolvido numa revolução armada

Fotos Divulgação
Lindsay Lohan é April, filha patricinha de executivo; nesta cena, ela se veste de freira e se junta a grupo de imigrantes

FERNANDA EZABELLA
DE LOS ANGELES

Em "Machete", novo longa de Robert Rodriguez, o cinema parece imitar a vida -e não apenas porque Lindsay Lohan aparece escandalosa.
Mexicanos são perseguidos ao tentar cruzar a fronteira, e políticos americanos de olho nas urnas endurecem as propostas contra a imigração, financiados por chefes do narcotráfico.
Muitas cabeças literalmente rolam no filme, que tem como herói Machete, um ex-agente federal do México. Obcecado por facas, ele tenta recomeçar a vida no Texas e acaba envolvido numa revolução armada.
A data do lançamento nos EUA, nesta sexta (no Brasil, está previsto para 15/10), não poderia ser mais propícia para polêmicas, indo além da tradicional violência das obras de Rodriguez ("Planeta Terror", "Sin City").
Na semana passada, quando "Machete" teve pré-estreia em Hollywood, 72 imigrantes foram encontrados mortos em San Fernando, perto da fronteira entre o México e os EUA (leia texto nesta página).
Há um mês, o Arizona colocou em vigor lei que criminaliza a imigração ilegal. E, daqui a dois meses, acontecem eleições legislativas nos EUA, nas quais o assunto é tema de debates acalorados.
"É um "timing" ótimo, faz o filme mais relevante. A história é completamente fantasiosa, mas você sabe que muita coisa disso acontece de fato", disse Rodriguez para jornalistas em hotel em Los Angeles na última sexta.

CORRUPÇÃO
"Como no filme, um jeito de os políticos conseguirem votos é falando duro [contra imigração]. Mas é só politicagem. Ninguém quer chegar perto dos problemas reais", afirmou o diretor, que citou a corrupção como principal causa da violência.
O ator Danny Trejo faz Machete, que aceita a missão de matar um político de ideias radicais (Robert De Niro) buscando a reeleição.
Mas a ação falha e aumenta sua popularidade, enquanto um chefe do narcotráfico (Steven Seagal) colabora com sua campanha .
"Achei genial a relevância político-social desse filme", disse Jessica Alba, que faz uma agente federal americana à procura de uma rede de mexicanos armados, liderada pela vendedora de tacos Luz (Michelle Rodriguez).
"A única forma de abrir um diálogo de fato é quase enganando as pessoas, para que elas tenham uma opinião. Elas serão entretidas e também vão sair do cinema com um pensamento. É a melhor forma de se expressar."
Para Trejo, a hora de os EUA resolverem a questão é agora. "Ou, como em "Machete", o povo vai criar sua própria solução."
Em sessão para a imprensa, certas cenas arrancaram aplausos, como quando (atenção para a revelação de trechos do filme) o personagem de Alba luta usando um par de salto alto como arma ou quando os intestinos de um inimigo viram uma corda para uma fuga pela janela.


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