São Paulo, terça-feira, 30 de agosto de 2011

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CRÍTICA HISTÓRIA

Livro reflete ignorância brasileira sobre a América Latina

SYLVIA COLOMBO
DE BUENOS AIRES

Brasileiros são mal informados sobre a América Latina. A raiz disso está no preconceito de nossa elite do século 19 com o que acontecia para além das fronteiras.
País que não conheceu a guerra para se tornar independente e que teve fronteiras estabelecidas cedo, o Brasil teve dificuldades para entender que essas nações, ao saírem de lutas sangrentas, tiveram de levantar economias arrasadas e definir sistemas de governo. O "lado de lá" pareceu incompreensível, um mundo habitado por caudilhos selvagens onde reinava a anarquia popular. O desconhecimento da história provoca distanciamento e, muitas vezes, puro preconceito.
É o caso de "Guia Politicamente Incorreto da América Latina", de Leandro Narloch e Duda Teixeira. O livro mira o "falso herói latino-americano". Seus alvos são Che Guevara, Simón Bolívar, Juan Domingo Perón, Pancho Villa, Salvador Allende, os pré-colombianos e os revolucionários do Haiti.
Os autores reforçam traços que consideram extravagantes de personagens e dizem que, por seus caprichos e estupidez, esses homens acabaram com as chances dos países de evoluir. Ignoram a história e o contexto que deram origem a essas figuras. Para os autores, a Argentina, nos anos 40, tinha "tudo para decolar", mas foi "só Perón aparecer" que tudo ruiu.
Não é certo que tudo vinha bem. O processo de independência demorou para se consolidar. Entre 1816, quando se deu a emancipação, e 1862, quando Mitre foi eleito presidente do país unificado, houve embates entre Buenos Aires e as Províncias, em parte não resolvidos até hoje.
O livro sugere que, a partir da Constituição de 1853, o país se organizou. Errado. Nesse momento, nem Buenos Aires fazia parte da Confederação Argentina.
É certo que o país estava bem economicamente quando Perón assumiu. Mas é equivocado dizer que ele estragou tudo sozinho. Perón teve apoio popular e de parte da elite.
Os autores ridicularizam os mexicanos, "exóticos" por celebrar o Dia dos Mortos. É coisa de quem sai pouco do próprio bairro. Na "receita para se preparar um bom latino-americano", dizem que é "um requisito moral usar ponchos e saias coloridas". Os autores conhecem mesmo Buenos Aires, Santiago, Bogotá ou Montevidéu?
Este "Guia" coloca agora mais um tijolinho no muro de ignorância e soberba que separa o Brasil do resto do continente.

GUIA POLITICAMENTE INCORRETO DA AMÉRICA LATINA
AUTORES Leandro Narloch e Duda Teixeira
EDITORA Leya
PREÇO 39,90 (335 págs.)
AVALIAÇÃO ruim


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