INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Alain Resnais já foi moda. Faltar a um de seus filmes parecia em certa época coisa impossível. Aos poucos, no entanto, seus filmes deixaram de chegar ao país e mesmo os que haviam chegado foram caindo no esquecimento.
Talvez Resnais não fosse tão grande quanto imaginávamos. Mas não é minúsculo como se poderia acreditar hoje em dia.
Hoje o Eurochannel exibe dois de seus trabalhos. "Meu Tio da América" (24h) é de 1980 e fez sucesso por aqui. Trata, de um lado, de um especialista no estudo do comportamento. De outro, do comportamento propriamente dito.
"A Vida É um Romance" (22h) tem uma estrutura temporal complexa. No mesmo local, ações se passam em 1919 e em 1982. Sendo que, em 82, há um fato real e outro imaginário.

DOCUMENTÁRIO

"Música Techno" faz retrato da cultura rave

GUILHERME WERNECK
EDITOR-ADJUNTO DA ILUSTRADA

Uma sensação desconfortável de que a televisão está sempre alguns passos atrás dos movimentos da cultura jovem é a primeira impressão que se tem ao assistir ao documentário inédito "Música Techno", que o GNT exibe hoje.
Essa sensação incômoda começa pela tradução canhestra do título, o reducionista "Música Techno" para um filme que se chama "Better Living Through Circuitry: Technoculture" (Cultura tecno: vivendo melhor pelos circuitos, numa tradução livre do inglês). E se acentua quando você percebe que este filme de 1999 levou cinco anos para chegar ao Brasil e aporta na telinha numa versão de quase uma hora, cortando meia hora do original.
Com essas ressalvas colocadas, o filme de Jon Reiss é um bom documentário da cultura rave. Toca em pontos delicados como o uso de drogas e a repressão policial, mostrando ângulos diferentes, e dá voz a quem participa das festas, tomando partido claro da cultura rave em detrimento da cultura dos clubes. O que é um ponto de vista válido, mas discutível.
Por outro lado, são esclarecedores os retratos das raves e é uma boa escolha o foco no comportamento dos jovens que participavam dessas festas há cinco anos.
De uma ótica estritamente musical, ao contrário do que o título dá a entender, o filme cobre diversos estilos, da house ao trance, do tecno ao drum'n'bass. Há boas entrevistas, principalmente as de Roni Size, DJ Spooky, BT, Carl Cox, Keoki e da impagável Genesis P. Oridge, que mapeia os pontos de transformação de consciência e de comportamento com a eloqüência de quem está à frente de seu tempo desde os anos 70.
Outro destaque é a breve entrevista com o fundador do Kraftwerk, Wolfgang Flür, que mostra que há muito mais por trás do fascínio da cultura eletrônica do que a música de pista.
Para quem ainda não entendeu o que essa cultura representa, é um documentário que vale a pena ver. Para quem já foi a uma rave, é um divertido flashback.