São Paulo, quinta-feira, 30 de setembro de 2004

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O impossível acontece

Daniel Filho estréia filme sobre a chance de mudar o passado e fala à Folha sobre Globo, cinema e TV

SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

Voltar no tempo, desdobrar uma esquina da vida e seguir em outra direção é a chance que o diretor Daniel Filho dá à protagonista do longa "A Dona da História", interpretada simultaneamente pelas atrizes Débora Falabella e Marieta Severo.
O filme, que estréia amanhã em 250 salas, sucede "A Partilha" (2001), por sua vez o título que interrompeu jejum de quase duas décadas de Filho na direção de cinema, desde os iniciais "Pobre Príncipe Encantado" (1968) e "O Impossível Acontece" (1969).
Com seu segundo longa no século 21, sobre uma mulher em dúvida entre a carreira de atriz e um grande amor, o diretor diz que homenageia a "trabalhadora caseira", figura comum em "países subdesenvolvidos como o nosso".
Do velho mundo, diz sonhar com o modelo europeu de produção de filmes, com financiamento das TVs. O diretor afirma que a Globo não está mais entre as maiores emissoras mundiais e diz que é "uma tristeza" que ela seja "possivelmente a única estação profissional" do país. Afiado, cita "Acquaria" para provar que prestígio na publicidade não é sinônimo de sucesso no cinema.
 

Folha - O sr. tem reputação de bom estrategista no lançamento de filmes nacionais. "A Dona da História" é aposta no filão feminino?
Daniel Filho -
Não sou estrategista de lançamento. Vários filmes que lancei não foram bem. Para citar um recente, "Redentor" [de Cláudio Torres]. Portanto, não sou esse midas de só acertar.
Minha vida é de mais acertos. Mas essa média está relacionada com os riscos que corro. O mundo muda e você tem que estar atento. Se eu fizesse hoje uma história como "Malu Mulher", que fiz em 1978, estaria defasado.

Folha - No entanto, em "A Dona da História" a carreira profissional da mulher é incompatível com sua vida amorosa. Não é um recuo até em relação a "Malu Mulher"?
Filho -
Não. Nem todas as mulheres trabalham fora. Em países subdesenvolvidos como o nosso, há enorme contingente da mulher trabalhadora caseira. A do nosso filme teve quatro filhos, dedicou a vida a esse tipo de casamento. Minha homenagem é a esta mulher. Não creio que seja voltar atrás.

Folha - A trilha usa "Chovendo na Roseira" (Tom Jobim) na voz de Sandy, e não na de Elis (1974). O sr. quis mostrar que da "Pimentinha" a Sandy há uma curva do Brasil?
Filho -
Não. Eu não queria tirar o espectador do filme. Para "Canta, Brasil", poderia ter usado a gravação fantástica de Gal, mas ela roubaria a minha cena. No final do filme, se botasse a Elis, em vez de ficar com essa menina, iria para a Elis Regina revolucionária. E quero ficar com a menina sonhadora.


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