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O impossível acontece
Daniel Filho estréia filme sobre a chance de mudar o passado e fala à Folha sobre Globo, cinema e TV
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
Voltar no tempo, desdobrar
uma esquina da vida e seguir em
outra direção é a chance que o diretor Daniel Filho dá à protagonista do longa "A Dona da História", interpretada simultaneamente pelas atrizes Débora Falabella e Marieta Severo.
O filme, que estréia amanhã em
250 salas, sucede "A Partilha"
(2001), por sua vez o título que interrompeu jejum de quase duas
décadas de Filho na direção de cinema, desde os iniciais "Pobre
Príncipe Encantado" (1968) e "O
Impossível Acontece" (1969).
Com seu segundo longa no século 21, sobre uma mulher em dúvida entre a carreira de atriz e um
grande amor, o diretor diz que
homenageia a "trabalhadora caseira", figura comum em "países
subdesenvolvidos como o nosso".
Do velho mundo, diz sonhar
com o modelo europeu de produção de filmes, com financiamento
das TVs. O diretor afirma que a
Globo não está mais entre as
maiores emissoras mundiais e diz
que é "uma tristeza" que ela seja
"possivelmente a única estação
profissional" do país. Afiado, cita
"Acquaria" para provar que prestígio na publicidade não é sinônimo de sucesso no cinema.
Folha - O sr. tem reputação de
bom estrategista no lançamento de
filmes nacionais. "A Dona da História" é aposta no filão feminino?
Daniel Filho - Não sou estrategista de lançamento. Vários filmes
que lancei não foram bem. Para
citar um recente, "Redentor" [de
Cláudio Torres]. Portanto, não
sou esse midas de só acertar.
Minha vida é de mais acertos.
Mas essa média está relacionada
com os riscos que corro. O mundo muda e você tem que estar
atento. Se eu fizesse hoje uma história como "Malu Mulher", que
fiz em 1978, estaria defasado.
Folha - No entanto, em "A Dona
da História" a carreira profissional
da mulher é incompatível com sua
vida amorosa. Não é um recuo até
em relação a "Malu Mulher"?
Filho - Não. Nem todas as mulheres trabalham fora. Em países
subdesenvolvidos como o nosso,
há enorme contingente da mulher
trabalhadora caseira. A do nosso
filme teve quatro filhos, dedicou a
vida a esse tipo de casamento. Minha homenagem é a esta mulher.
Não creio que seja voltar atrás.
Folha - A trilha usa "Chovendo na
Roseira" (Tom Jobim) na voz de
Sandy, e não na de Elis (1974). O sr.
quis mostrar que da "Pimentinha"
a Sandy há uma curva do Brasil?
Filho - Não. Eu não queria tirar o
espectador do filme. Para "Canta,
Brasil", poderia ter usado a gravação fantástica de Gal, mas ela roubaria a minha cena. No final do
filme, se botasse a Elis, em vez de
ficar com essa menina, iria para a
Elis Regina revolucionária. E quero ficar com a menina sonhadora.
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