|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MERCADO EDITORIAL
Autor do "épico" brasileiro, Orlando Paes Filho provoca batalha ao trocar de editora
Lutas de "Angus" vão dos livros à Justiça
CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Não só em cidades escocesas
como Nortúmbria, Mércia e Cair
Gloui, no século 9 e subseqüentes,
se desenrolam as batalhas do
guerreiro Angus MacLachlan e
seus descendentes.
O universo da série de livros
"Angus" está deixando de lado espadas e machados, vikings e cruzados, Bizâncio e Constantinopla
para uma disputa no Tribunal de
Justiça de São Paulo. De um lado
do cabo-de-guerra está uma das
empresas mais poderosas do cenário livreiro-editorial brasileiro,
o grupo Siciliano; do outro, o pai
de "Angus", Orlando Paes Filho.
Esta história não começa na
Idade Média, onde se passam boa
parte das aventuras imaginadas
pelo escritor e publicitário paulistano, mas recua pelo menos até o
final dos anos 70.
Paes Filho, 41, diz que começou
a criar a sua saga medieval em
1977, na sua adolescência. Em
2002 assinou contrato com a Siciliano e, em maio do ano passado,
depois de 25 anos de trabalho,
"Angus" chegou às livrarias de todo o país em "épicos" 20 mil
exemplares iniciais.
De lá para cá, afirma o escritor
de "Angus", seu "relacionamento
com a editora só se deteriorou".
Até que o autor "rompeu" com a
Siciliano no início de 2004. Nas últimas semanas, a história viveu
novas cruzadas.
A série que Paes Filho desenhou
para ter sete volumes, com um
pano de fundo cronológico que
começa no século 9 e vai até o ano
2020, voltou às livrarias com o trabalho inicialmente previsto para
ser o terceiro da coleção.
"Angus - O Guerreiro de Deus"
não chegou ao mercado com o escudo do selo Arxjovem (do grupo
Siciliano), que fora estampado em
"Angus - O Primeiro Guerreiro".
O livro, ainda na gôndola de lançamento das livrarias, foi publicado pela editora Planeta, subsidiária brasileira do grupo de mesmo
nome, que comprou os direitos
da série para América Latina e Espanha.
E o segundo romance da série?
Está prontinho, mas só pode ser
visto ou no escritório de Paes Filho ou em alguma pasta da 8ª Vara Cível de São Paulo, onde foi depositado em juízo.
Paes Filho e seu advogado, Manoel Ignácio Torres Monteiro,
alegam que o contrato com a Siciliano relativo ao livro dois de "Angus" não poderia ser cumprido
por ter a editora rompido diversas
de suas cláusulas.
Paes Filho diz que entre as cláusulas importantes que teriam deixado de ser cumpridas, a principal seria o atraso da Sicilano na
entrega de um plano de marketing para a coleção.
A editora-geral da Siciliano,
Ana Emília de Oliveira Silva, contesta a afirmação do criador de
"Angus". "Fizemos insistentes
pedidos para que o autor cumprisse as disposições contratuais e
nos entregasse os originais do livro nos prazos; e, como isso não
foi feito, essa atitude nos impediu
de detalhar a campanha publicitária. Queremos ressaltar que o plano de marketing já estava definido no contrato", afirma, por escrito, à Folha, a editora.
Na opinião dela, razões financeiras -e não descumprimento
de contrato- explicariam a decisão de Paes Filho de mudar de
"casa". "Como a nova editora
possui uma filial no Brasil, tornaria viável o projeto de lançar a
obra internacionalmente."
Em entrevistas à Folha, Paes Filho nega que sua decisão tenha
objetivos financeiros. Uma de
suas críticas principais ao grupo
Siciliano é a do uso do selo Arxjovem -e não do selo "adulto" do
grupo, Arx- para "Angus - O
Primeiro Guerreiro".
Segundo o autor, o uso do selo
buscaria "pegar carona" em fenômenos como "Harry Potter".
"Minha obra não é profunda, de
grande mérito literário, mas não é
infantil. Tem muita violência no
conteúdo. Prefiro perder dinheiro
a vender "Angus" para crianças. Se
fosse pelo dinheiro, não criaria
um épico, investiria na Bolsa."
Ana Emília, da Siciliano, afirma
que a escolha do selo "se deu conjuntamente pelo autor e editor
quando da contratação da obra".
Ela sustenta que a "a obra teve um
sucesso retumbante com os jovens". De acordo com a empresa,
o primeiro volume teria vendido
de maio de 2003 até hoje 36 mil
cópias (quantidade que põe o livro em listas de mais vendidos).
No momento das primeiras
conversas da Folha com o autor,
seu advogado e Siciliano, na semana passada, a versão de "Angus" editada pela Planeta estava
exposta com destaque em diversas livrarias visitadas pela reportagem, mas não estava disponível
em lojas Siciliano nem em seu site. Sem falar em números, a Planeta disse à Folha que os pedidos
da rede, uma das maiores do país,
eram "abaixo do esperado".
Nesta semana, lojas da Siciliano,
e não sua "matriz", como é costume, passaram a fazer encomendas da versão da Planeta e o livro
começou a ser vendido também
pela Siciliano virtual. "Fico triste
que a Siciliano tenha mudado de
idéia. Isso mostra que os valores
são menos importantes para eles
do que o dinheiro. Preferia um
adversário mais digno", diz, com
vocabulário "Angus", Paes Filho.
Texto Anterior: Festival do Rio: Filmes revelam assimetrias de poder insuperáveis Próximo Texto: Obra faz "duplo twist carpado" no exterior Índice
|