|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Mostra estimula diálogo com platéia
CRÍTICA DA FOLHA
Ao longo de uma semana, foi
um apanhado de diferentes linguagens e estilos da dança contemporânea: 12 companhias mineiras e uma francesa, reunidos
num espaço aberto, freqüentado
por mais de mil pessoas por dia. A
mostra "Arte em Movimento",
que aconteceu de terça a domingo
da semana passada no Parque
Municipal, em Belo Horizonte,
estimulou diálogos diretos com a
platéia, que correu para ver boa
dança de graça -incluindo os
passantes da avenida Afonso Pena, amontoados nas grades.
Não é comum ter uma platéia
dessas: gente que responde de
maneira direta, seja com aplausos, seja com risos ou reclamações, sem falar no vaivém quase
constante. Janete Silva, saindo do
trabalho, parou para assistir aos
espetáculos da noite de quinta-feira: "Pouco Acima", do grupo
Trampulim, que trabalha na interface da dança com o circo, e
"Insólito", da companhia SeráQuê?, que leva a dança de rua para
o contexto da dança contemporânea. Depois do que viu, ficou pensativa, "sem saber o que dizer". Já
Gilson Lopez, professor de geografia e freqüentador assíduo da
mostra, achou interessante "conhecer os artistas que temos".
Essa é a primeira vez que os grupos, que tiveram seus projetos
aprovados pela Lei Estadual de
Incentivo à Cultura, se reuniram
numa mostra tendo um mesmo
patrocinador (Telemig Celeluar)
e um produtor comum (ArtBhz)
-com exceção de três grupos
convidados (Palácio das Artes,
Cia. MN e Association FinNovembre). Estabeleceu-se uma nova forma de parceria entre os artistas e os produtores: cada grupo
disponibilizou 30% do seu patrocínio para custear elementos da
infra-estrutura do palco e dos
bastidores. O que gerou alguma
polêmica entre os participantes.
Na visão de Rui Moreira, assessor artístico da mostra e diretor
da companhia SeráQuê?, essa é a
primeira etapa do trabalho (que
segue pelo interior de Minas) e só
mais tarde se poderá avaliar e adequar o novo modelo proposto. Segundo ele, pode ser um novo modelo para viabilizar eventos de
grande porte na dança.
Arte conceitual, interface da
dança com outras áreas e uso da
dança de rua como vocabulário
de movimento foram três vertentes compondo um mapa possível
da dança mineira. Além dos já citados, participaram 1º Ato, Benvinda, Adriana Banana, Marcelo
Gabriel, Thembi Rosa, eXperimentum, Quik, e Balé de Rua.
Não há sumário possível de tanta
diversidade: são propostas singulares, que permitem ver tanto intersecções como disparidades no
entendimento da dança hoje.
Os desafios são muitos e passam
por questões de produção. Num
momento em que se questionam
as leis de incentivo e sua aplicação
nas mais diversas áreas, a circulação ampla e gratuita desses trabalhos levanta algo em que pensar.
O maior desafio do encontro, sem
dúvida, está no contato com essa
nova platéia, que põe em xeque,
de forma bem direta, a comunicação da dança contemporânea
com o público.
(IB)
Inês Bogéa viajou a convite da mostra
Texto Anterior: Dança/Crítica: "Sonho" viaja, com luxo, para outras dimensões Próximo Texto: Gastronomia: Sem apartheid, vinhos sul-africanos ganham mercado Índice
|