São Paulo, quinta-feira, 30 de setembro de 2004

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Mostra estimula diálogo com platéia

CRÍTICA DA FOLHA

Ao longo de uma semana, foi um apanhado de diferentes linguagens e estilos da dança contemporânea: 12 companhias mineiras e uma francesa, reunidos num espaço aberto, freqüentado por mais de mil pessoas por dia. A mostra "Arte em Movimento", que aconteceu de terça a domingo da semana passada no Parque Municipal, em Belo Horizonte, estimulou diálogos diretos com a platéia, que correu para ver boa dança de graça -incluindo os passantes da avenida Afonso Pena, amontoados nas grades.
Não é comum ter uma platéia dessas: gente que responde de maneira direta, seja com aplausos, seja com risos ou reclamações, sem falar no vaivém quase constante. Janete Silva, saindo do trabalho, parou para assistir aos espetáculos da noite de quinta-feira: "Pouco Acima", do grupo Trampulim, que trabalha na interface da dança com o circo, e "Insólito", da companhia SeráQuê?, que leva a dança de rua para o contexto da dança contemporânea. Depois do que viu, ficou pensativa, "sem saber o que dizer". Já Gilson Lopez, professor de geografia e freqüentador assíduo da mostra, achou interessante "conhecer os artistas que temos".
Essa é a primeira vez que os grupos, que tiveram seus projetos aprovados pela Lei Estadual de Incentivo à Cultura, se reuniram numa mostra tendo um mesmo patrocinador (Telemig Celeluar) e um produtor comum (ArtBhz) -com exceção de três grupos convidados (Palácio das Artes, Cia. MN e Association FinNovembre). Estabeleceu-se uma nova forma de parceria entre os artistas e os produtores: cada grupo disponibilizou 30% do seu patrocínio para custear elementos da infra-estrutura do palco e dos bastidores. O que gerou alguma polêmica entre os participantes.
Na visão de Rui Moreira, assessor artístico da mostra e diretor da companhia SeráQuê?, essa é a primeira etapa do trabalho (que segue pelo interior de Minas) e só mais tarde se poderá avaliar e adequar o novo modelo proposto. Segundo ele, pode ser um novo modelo para viabilizar eventos de grande porte na dança.
Arte conceitual, interface da dança com outras áreas e uso da dança de rua como vocabulário de movimento foram três vertentes compondo um mapa possível da dança mineira. Além dos já citados, participaram 1º Ato, Benvinda, Adriana Banana, Marcelo Gabriel, Thembi Rosa, eXperimentum, Quik, e Balé de Rua. Não há sumário possível de tanta diversidade: são propostas singulares, que permitem ver tanto intersecções como disparidades no entendimento da dança hoje.
Os desafios são muitos e passam por questões de produção. Num momento em que se questionam as leis de incentivo e sua aplicação nas mais diversas áreas, a circulação ampla e gratuita desses trabalhos levanta algo em que pensar. O maior desafio do encontro, sem dúvida, está no contato com essa nova platéia, que põe em xeque, de forma bem direta, a comunicação da dança contemporânea com o público. (IB)


Inês Bogéa viajou a convite da mostra

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