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"Vida de Menina", filme que estréia hoje, sintetiza diário de Helena Morley no séc. 19
A descoberta do MUNDO
EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL
A adaptação de "Minha Vida de Menina - O Diário de Helena
Morley" não foi tarefa fácil. Helena Solberg, diretora do filme, e
Elena Soárez fizeram mais de dez
versões até chegar ao roteiro final
do filme, que estréia hoje em São
Paulo. Escrito entre 1893 e 1895,
publicado em 1942, cultuado por
várias gerações, o diário é uma
colcha de retalhos de três anos na
vida de Alice Dayrell, descendente
de ingleses que, na Diamantina do
fim do século 19, criou a personagem Helena Morley para narrar
suas memórias de adolescente.
"O livro é formado por episódios que terminam em si. Foi necessário ler nas entrelinhas para
dar a idéia de passagem de uma
vida, de amadurecimento da personagem. Menos uma questão de
fidelidade aos fatos do que ao espírito do diário", diz Solberg, interessada na universalidade da história daquela adolescente, sua relação com a família e a Província.
"Eu não estava atrás de um
enredo, mas sim de apresentar essa menina, falastrona e desobediente e que arranjou tempo para
escrever, uma atividade que pressupõe disciplina e introspecção."
Histórico
Diferentemente de muitas mulheres de sua geração, Solberg não
leu "Minha Vida de Menina" na
adolescência. Interessou-se pelo
diário já adulta, quando soube
que o escritor Rubem Braga havia
sugerido o livro à poeta americana Elizabeth Bishop, como sua
iniciação na literatura brasileira.
Bishop acabou fazendo a tradução do livro para o inglês.
"Achei inacreditável, porque a
Alice não tinha intenção literária
ao escrever o diário, mas criou um
personagem para contar suas memórias. E o livro também é um
documento histórico, do racismo
pós-abolição da escravatura e do
início da República", ressalta.
"Também acho curioso que ela
não tenha se tornado escritora.
Preferiu, como disse, os serviços
de fazer com as mãos, para ficar
com o espírito livre para sonhar."
Filmado em julho de 2003, na
Diamantina que é cenário real das
memórias de Helena Morley, "Vida de Menina" foi lançado no Festival de Gramado de 2004, de onde saiu com seis Kikitos, entre eles
os de melhor roteiro e filme, dos
júris oficial e popular.
Faltou, quem sabe, o de atriz
principal, cuja escolha foi curiosa.
Desde o início, Solberg tinha em
mente Ludmila Dayer, a quem vira em 1995 em "Carlota Joaquina
-°Princesa do Brazil". Mas, ao se
deparar com a atriz num teste,
quase desistiu. Maquiada, então
com 20 anos, não mais parecia a
escolha certa para viver uma menina de 13 anos. Dayer foi ao banheiro, tirou a maquiagem e, de
cara lavada, levou o papel.
"Queria uma atriz que tivesse
muitas caras, que não se preocupasse em aparecer ora linda, ora
feia. E a Ludmila é uma atriz muito séria e inteligente, conseguiu
compreender o papel e entender
que não deveria fazer uma caricatura de menininha", diz Solberg.
"E ela tem muito da Helena Morley, algo da sua rebeldia."
Para Dayer, hoje com 22, o papel da adolescente avançada para
sua época, que exigiu aulas de voz
e de postura para lhe subtrair sete
anos, foi um presente.
"Eu lia o texto e pensava: "Como
ela tem coisa minha'", diz a atriz,
que, identificada com o gênio forte de sua personagem, mergulhou
fundo. "Não queria parecer uma
menina mais velha fazendo uma
mais nova. E isso exigiu muita
concentração para manter a continuidade. Eu nem falava com a
minha família durante as filmagens. Foi um processo de criação
muito intenso."
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