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"AMOR PARA SEMPRE"
Thriller psicológico dá cor e forma às indagações de Ian McEwan
SYLVIA COLOMBO
EDITORA DO FOLHATEEN
"I've never seen such a terrible thing as that falling
man" (eu nunca tinha visto nada
tão terrível quanto aquele homem
caindo). As palavras encerram
um dos mais exasperantes capítulos iniciais da literatura contemporânea -a abertura de "Amor
para Sempre" (ed. Rocco, 1997),
livro do britânico Ian McEwan.
O tal "homem caindo" é o desfecho de um desastre com um balão. Nos arredores de Oxford, um
grupo de homens tenta impedir
que um balão desgovernado leve
para as alturas seu único tripulante, um indefeso garoto.
Por alguns instantes, tem-se a
impressão de que o resgate será
eficiente, afinal, todos os homens
estão agarrados à cesta e conseguem manter o balão próximo ao
solo. Até que um deles se solta, o
balão repentinamente ganha altura, e a maioria dos outros homens
é também obrigada a largá-lo.
Num átimo, o altruísmo dá lugar ao instinto de sobrevivência.
Menos para um deles, que permanece pendurado enquanto o balão sobe cada vez mais alto, até
que sua mão, desgastada pelo esforço, solta a corda e ele se deixa
cair para a morte certa.
O que poderia ser uma fábula
sobre os limites da bondade humana ou um estudo sociológico
sobre um grupo de homens numa
situação-limite dá lugar a um thriller psicológico quando um dos
homens que soltou o balão se vê
obcecado por outro do grupo.
Sofrendo de uma rara síndrome
psiquiátrica, Jed crê que a tragédia
é um sinal que o vincula a Joe, um
professor universitário casado
que passa a viver atormentado pela culpa por não ter controlado o
balão e evitado a morte do homem que permaneceu firme na
tentativa de salvar o menino.
"Amor para Sempre", o filme, é
fiel ao livro no que diz respeito à
história de perseguição que se segue. Jed passa a andar no encalço
de Joe. O assédio é tão grande que
este passa a realmente duvidar sobre o amor que sente pela mulher
e o que é a obsessão que Jed sente
por ele. Chega a achar que o acidente com o balão talvez tivesse
mesmo um significado transcedental em sua vida.
Costuma ser uma obviedade dizer que os livros são melhores que
suas adaptações para as telas. No
caso de "Amor para Sempre" não
é diferente. Mas o que faz deste
um bom filme é justamente o fato
de que o diretor não tentou competir com o talento literário de
McEwan, o mais brilhante escritor inglês hoje (autor de "Amsterdã", "Reparação" e outros).
No romance, o foco do autor está no questionamento sobre o
quão tênue é o limite, dentro de
um relacionamento amoroso, entre o que cada um dos amantes
realmente é e a projeção que um
faz do outro e daquilo que sente.
Já o diretor Roger Michell apostou naquilo que o cinema poderia
acrescentar à obra. O episódio do
balão, por exemplo, é bem reproduzido por não seguir uma óbvia
linearidade, mas adotando uma
narrativa caótica, refletindo uma
mente confusa por uma situação
de pânico.
E, se no livro a perseguição alimenta indagações psíquicas sobre
o amor e o inexorável dentro de
uma narrativa cheia de divagações filosóficas, o filme ganha ao
empacotar tudo isso numa bem
estruturada trama de suspense.
Amor para Sempre
Enduring Love
Direção: Roger Michell
Produção: Inglaterra, 2005
Com: Daniel Craig, Rhys Ifans, Samantha Morton
Quando: a partir de hoje no Cinesesc, Reserva Cultural e HSBC Belas Artes
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