São Paulo, sexta-feira, 30 de setembro de 2005

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CINEMA

A convite da Folha, wiccas vêem longa de Nicole Kidman, que estréia hoje; grupo prefere a série clássica dos anos 60

Filme "Feiticeira" decepciona até bruxos

LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Na tentativa de levar uma vida normal, a bruxa Isabel Bigelow (Nicole Kidman) vai ao supermercado. Na hora de pagar a conta, não resiste à tentação: num passe de mágica, transforma uma carta de tarô em cartão de crédito.
Risos na platéia de quatro bruxos convidados pela Folha para ver o filme "A Feiticeira", que estréia hoje nos cinemas. Mas a diversão não foi muito além da cena inicial. A história, baseada na série dos anos 60, decepcionou os wicca (termo adotado a fim de atenuar a carga negativa da palavra bruxa -nas fábulas, a feia e má; na Inquisição, as pecadoras queimadas em praça pública).
De zero a dez, deram 6,5 para o longa. Depois, assistiram ao primeiro capítulo do seriado (cuja primeira temporada acaba de ser lançada em DVD). Nota: "Onze!".
A bruxaria da vida real, explicam, tem pouco a ver com a de Isabel ou da velha Samantha. Não existe mágica, dizem, por mais que ensaiem a mexidinha no nariz ou o estalar de dedos. Mas, a exemplo do filme e do programa, os bruxos de São Paulo fazem rituais com caldeirão, chapéu e vassoura. Alguns são entre árvores do parque Trianon, na Paulista.
"Tudo tem significado. O caldeirão representa o útero da grande mãe; o chapéu, pessoas ao redor do cone de poder; a vassoura limpa energeticamente os locais e se associa à viagem astral", diz Cláudia Hauy, 37, cientista social pela UFRJ (federal do Rio), taróloga e terapeuta holística.
Os bruxos "reais" garantem que não voam na vassoura, mas Kidman, sim. Assim como no clássico, sua bruxinha linda e loira faz de tudo para evitar a feitiçaria, mas, hora do aperto, apela para um truquezinho aqui, outro ali.
Seu sonho é ter um casamento normal. Eis que se depara com o fracassado ator Jack Wyatt (Will Ferrel). O problema é que ele está justamente atrás de alguém para interpretar Samantha numa refilmagem da série "A Feiticeira". E Isabel é seu grande achado.
Foi a maneira encontrada pela roteirista Nora Ephron ("Harry e Sally - Feitos um para o Outro", "Mensagem para Você") para fugir de um "remake" do seriado. Antes tivesse optado pela refilmagem, dizem os feiticeiros-críticos da Folha. "Esperava ver a Nicole Kidman torcendo mais o nariz, como a Samantha. O seriado é muito melhor do que o filme", acredita Marli Moreira, 54, que atua na mesma área de Cláudia.
"Ver o filme e logo depois, o primeiro episódio da série, dá a certeza de que não há comparação", diz José Antônio Domingos, 39, analista de sistema e bruxo de nome Bran Ap Llyr nas horas vagas.
Marli destaca um lado positivo comum nas duas produções: tanto Nicole Kidman quanto Elizabeth Montgomery, a atriz da série, "são doces e sedutoras, como as bruxas reais". "O fato de elas não quererem que as pessoas saibam que são feiticeiras reflete o preconceito que sempre existiu."
Vinícius Bezerra Ribeiro, 22, ou Morgan Le Fay para feiticeiros íntimos, considera a série mais interessante, mas vê com bons olhos alguns aspectos do longa. "Como o seriado, o filme aborda o conflito homem/mulher e o fato de as bruxas buscarem ser respeitadas", diz o ator de teatro, poeta, estudante de letras e... bruxo.


A Feiticeira - 1ª temporada (DVD, 36 episódios)
Criador:
Sol Saks
Distribuidora: Sony; R$ 110, em média


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