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CDS
MPB
CD reúne composições do anos 40, com arranjos de Mario Adnet e Zé Nogueira
Moacir Santos constrói música universal em "Choros & Alegria"
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
No processo de recuperação da obra de Moacir Santos, "Choros & Alegria" é um passo atrás que significa dois à frente.
Ao gravar composições dos anos
40, feitas antes do revolucionário
"Coisas" (1965), o time de músicos comandado por Mario Adnet
e Zé Nogueira -o mesmo de
"Ouro Negro" (2001)- abriu o já
amplo arco de invenções do
maestro pernambucano de 81
anos, radicado há 38 nos EUA.
Como já se disse quando do lançamento em CD de "Coisas", em
2004, Santos é soma, não exclusão. O que parecia óbvio diante
dos amálgamas sonoros dos anos
60 e 70 se reforça com o "aparecimento" das criações mais antigas.
Embora assentadas sobre um
gênero definido, o choro, as músicas do jovem Santos incorporam
influências várias, como o coco e
outros ritmos nordestinos ("Saudade de Jacques", dedicada a
Jackson do Pandeiro), o maxixe
("Ricaom"), a valsa ("Cleonix") e
os fraseados dos regionais cariocas ("Vaidoso" e "Flores").
Os arranjos de Adnet e Nogueira deixam claro como, na obra de
Santos, um choro não é mera reprodução de modelos, permitindo variantes surpreendentes. Os
cruzamentos entre o sax tenor de
Marcelo Martins e o trombone de
Vittor Santos em "Vaidoso" são
um exemplo. O diálogo entre o
sax barítono de Teco Cardoso e o
acordeom Marcos Nimrichter em
"Saudade de Jacques" é outro.
Mas o disco não são só choros,
mas também "alegrias", genérico
inventado por Santos para englobar composições que queria ver
gravadas ou regravadas. Embora
sua saúde não lhe permita mais
tocar, sua voz grave participa das
inéditas "Samba di Amante",
"Carrossel" e "Felipe".
Nessa fase pós-"Coisas", as criações de Santos já são como gêneros em si, cada música com sua
própria estética, pouco se prendendo a bases preestabelecidas. O
sensacional "Samba di Amante"
tem o samba-de-gafieira como
chão, mas o crescendo que os sopros fazem transcendem rótulos.
Já em "Carrossel", a evocação da
infância interiorana ganha tantas
sonoridades enquanto gira que o
limite é o infinito.
Não por acaso, um dos destaques do disco se chama "Rota Infinito", inédita de 1975 gravada
agora com a participação de
Wynton Marsalis, o maior trompetista norte-americano vivo.
Marsalis ficou tão entusiasmado com a obra de Santos que o
comparou a Duke Ellington e
exaltou a sua capacidade de unir,
na mesma partitura, África, Brasil, Europa e EUA.
Em suma, Moacir Santos é a
world music do bem. Ou, apropriando-se do título da divina terceira faixa do CD, é o "Paraíso".
Choros & Alegria
Artista: Moacir Santos
Gravadora: Biscoito Fino
Quanto: R$ 30, em média
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