São Paulo, sexta-feira, 30 de setembro de 2005

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CDS

MPB


CD reúne composições do anos 40, com arranjos de Mario Adnet e Zé Nogueira

Moacir Santos constrói música universal em "Choros & Alegria"

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

No processo de recuperação da obra de Moacir Santos, "Choros & Alegria" é um passo atrás que significa dois à frente. Ao gravar composições dos anos 40, feitas antes do revolucionário "Coisas" (1965), o time de músicos comandado por Mario Adnet e Zé Nogueira -o mesmo de "Ouro Negro" (2001)- abriu o já amplo arco de invenções do maestro pernambucano de 81 anos, radicado há 38 nos EUA.
Como já se disse quando do lançamento em CD de "Coisas", em 2004, Santos é soma, não exclusão. O que parecia óbvio diante dos amálgamas sonoros dos anos 60 e 70 se reforça com o "aparecimento" das criações mais antigas.
Embora assentadas sobre um gênero definido, o choro, as músicas do jovem Santos incorporam influências várias, como o coco e outros ritmos nordestinos ("Saudade de Jacques", dedicada a Jackson do Pandeiro), o maxixe ("Ricaom"), a valsa ("Cleonix") e os fraseados dos regionais cariocas ("Vaidoso" e "Flores").
Os arranjos de Adnet e Nogueira deixam claro como, na obra de Santos, um choro não é mera reprodução de modelos, permitindo variantes surpreendentes. Os cruzamentos entre o sax tenor de Marcelo Martins e o trombone de Vittor Santos em "Vaidoso" são um exemplo. O diálogo entre o sax barítono de Teco Cardoso e o acordeom Marcos Nimrichter em "Saudade de Jacques" é outro.
Mas o disco não são só choros, mas também "alegrias", genérico inventado por Santos para englobar composições que queria ver gravadas ou regravadas. Embora sua saúde não lhe permita mais tocar, sua voz grave participa das inéditas "Samba di Amante", "Carrossel" e "Felipe".
Nessa fase pós-"Coisas", as criações de Santos já são como gêneros em si, cada música com sua própria estética, pouco se prendendo a bases preestabelecidas. O sensacional "Samba di Amante" tem o samba-de-gafieira como chão, mas o crescendo que os sopros fazem transcendem rótulos. Já em "Carrossel", a evocação da infância interiorana ganha tantas sonoridades enquanto gira que o limite é o infinito.
Não por acaso, um dos destaques do disco se chama "Rota Infinito", inédita de 1975 gravada agora com a participação de Wynton Marsalis, o maior trompetista norte-americano vivo.
Marsalis ficou tão entusiasmado com a obra de Santos que o comparou a Duke Ellington e exaltou a sua capacidade de unir, na mesma partitura, África, Brasil, Europa e EUA.
Em suma, Moacir Santos é a world music do bem. Ou, apropriando-se do título da divina terceira faixa do CD, é o "Paraíso".


Choros & Alegria
    

Artista: Moacir Santos
Gravadora: Biscoito Fino
Quanto: R$ 30, em média


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