São Paulo, sexta-feira, 30 de setembro de 2005

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MÚSICA

Violeira mato-grossense-do-sul morreu aos 81 anos após sofrer parada cardíaca; reconhecimento no Brasil chegou tarde

Morre Helena Meirelles, a "dama da viola"

Eraldo Peres - 1º.jun.1999/Associated Press
Helena Meirelles na casa da poeta Cora Coralina, em Goiás; violeira sofria de pneumonia crônica


ANA RAQUEL COPETTI
COLABORAÇÃO PARA A AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE

JANAINA FIDALGO
DA REPORTAGEM LOCAL

A violeira Helena Meirelles, 81, considerada uma das melhores instrumentistas do mundo, morreu ontem, por volta da 1h, após sofrer uma parada cardíaca, em Campo Grande (MS).
Ela estava em casa desde a última segunda-feira, depois de duas recentes internações na Santa Casa da capital do Estado para tratar uma pneumonia crônica.
Nascida em Campo Grande, Helena Meirelles, que dizia que havia nascido no Pantanal, aprendeu com o olhar o segredo do violão. Aos dez anos, animava com desenvoltura rodas de viola nas fazendas do Estado.
Seu talento só foi conhecido pelo público brasileiro a partir de uma reportagem da revista norte-americana "Guitar Player", publicada em 1993, que a considerou uma das cem melhores nas violas de seis, oito, dez e 12 cordas.
O nome de Helena foi citado ao lado de personalidades mundiais da música, como B.B. King, Eric Clapton e George Benson.
O primeiro show em um teatro ocorreu aos 67 anos, e os quatro álbuns da violeira foram gravados tardiamente: "Helena Meirelles" (1994), "Flor de Guavira" (1996), "Raiz Pantaneira" (1997) e "De Volta ao Pantanal" (2003).
Helena se definia como mulher forte. "Nasci para agüentar paradas duras porque nunca aceitei ser mandada por homem. Nasci para ser eu, resolver tudo, em qualquer lugar do mundo."
Enfrentou os pais quando quis aprender a dedilhar viola. "Eles ameaçavam cortar meus dedos e eu dizia que tocaria mesmo com os tocos", dizia a violeira.
No cenário da música regional, o sentimento era de luto. O sanfoneiro Dino Rocha, amigo da artista havia dez anos, afirmou que "a música fica mais triste sem a viola de Helena".
Marcelo Loureiro, mestre nas cordas que dividiu o palco com a "dama da viola", como ele era tratada, disse que "é preciso recordar os ensinamentos e manter vivo o talento de Helena".
"Com a morte de Helena Meirelles, Mato Grosso do Sul perde uma das maiores expressões de sua mais genuína cultura popular", declarou o governador do Estado, José Orcírio Miranda, o Zeca do PT, em nota oficial divulgada na manhã de ontem.
Para o secretário da Cultura de Mato Grosso do Sul, Sílvio Nucci, a violeira deve ser lembrada também por sua trajetória adversa.
"Ela teve uma vida dura, mas foi sempre uma pessoa alegre. Lamentamos que Helena tenha sido descoberta muito tarde, somente após ganhar destaque na música internacional. Poderíamos ter convivido mais com essa guerreira", disse ele.

Enterro
Desde 2003, Helena Meirelles sofrera várias crises de pneumonia. Nos últimos dias, esteve internada no CTI da Santa Casa de Campo Grande. Como apresentou melhoras, recebeu alta, com a recomendação de continuar o tratamento em casa.
Enfraquecida, Helena morreu na madrugada de ontem, em casa, ao lado do filho, Francisco da Silva, do marido, Benedito Constantino da Silva e da nora, Donátila da Silva, em decorrência de uma parada cardiorrespiratória.
Helena Meirelles estava sendo velada ontem no cemitério Parque das Palmeiras, em Campo Grande -centenas de músicos, fãs e autoridades políticas estiveram no velório para se despedir da instrumentista. Seu enterro foi marcado para hoje, às 9h, no mesmo local.


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