FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O piano acompanha Keith Jarrett desde sua infância. Criança prodígio da música de concerto, ainda jovem descobriu o jazz e a improvisação, que se tornariam os elementos vitais de sua inventiva arte pianística. "Sou essencialmente um improvisador", diz Jarrett. E é isso o que "The Art of Improvisation" tenta revelar: um músico que cria o tempo todo, mesmo quando interpreta canções de outros compositores.
Apoiado em entrevistas e trechos de shows, esse DVD oferece um painel da vida musical do fenomenal pianista norte-americano. Avesso a entrevistas, Jarrett abre aqui rara exceção e fala longamente sobre sua extensa carreira. Nascido em 45, o pianista apareceu para o mundo do jazz na década de 60, no quarteto do saxofonista Charles Lloyd. Além da técnica exuberante, chamava a atenção por pequenas excentricidades, como cantarolar enquanto dedilhava o teclado ou ficar de pé para tocar o piano.
Jarrett logo assumiria sua faceta de compositor e líder, montando um trio -formato que o acompanha até hoje.
Para tentar explicar o que acontece durante as improvisações, Jarrett diz que "o sistema nervoso fica completamente alerta, em um grau muito maior do que em qualquer outro tipo de música". E essa exigência extrema cobrou seu preço. Em 96, sucumbiu a um colapso nervoso, que o deixou de cama e afastado da música por quase dois anos. "Eu olhava o piano mas não podia sequer abrir a tampa." Apenas no Natal de 97 reuniu forças para criar uma nova composição, "The Melody at the Night", com a qual presenteou sua mulher.
No ano seguinte, retomou aos poucos o trabalho com seu "Standards Trio", ao lado de Jack de Johnette (bateria) e Gary Peacock (baixo). O trio aparece aqui tocando "Butch and Butch", de Oliver Nelson -uma bela chance para apreciar o equilíbrio e a cumplicidade musical que atingiram.