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MÚSICA
Crítica/"Haih... or Amortecedor"
Mutantes seguem à risca época áurea; só falta a originalidade
Grupo lança primeiro disco com músicas inéditas desde 1976, mas só no exterior
MARCUS PRETO
DA REPORTAGEM LOCAL
U
m disco novo dos Mutantes, só de canções
inéditas, acaba de chegar às lojas. Não ouvíamos uma
frase assim há 33 anos, desde
que a mitológica banda paulistana, então contando só com o
guitarrista Sergio Dias de sua
formação original, lançou o fracote "Mutantes ao Vivo" (1976)
-que, apesar desse "ao vivo",
não repetia repertório antigo.
A ansiedade gerada por um
produto com essa grife, a mais
importante da história do rock
brasileiro, trabalha contraditoriamente a favor e contra seu
lançamento. Ao mesmo tempo
em que o selo Mutantes abre
portas em todos os cantos do
planeta, o respectivo som precisa ser taludo e potente ao extremo para fazer jus ao que se
espera dele. E espera-se muito.
É justamente desse mal que
padece "Haih... or Amortecedor", o novo álbum da banda
-que, desta vez, tem Sergio
Dias e o baterista Dinho Leme
dos Mutantes originais.
Lançado por enquanto apenas no mercado americano e
sem previsão para ganhar edição nacional, poderia ser considerado um bom álbum se sua
capa estivesse assinada com o
nome de outra banda.
Mas vem sob a marca sagrada
dos Mutantes e, pobre coitado,
precisa responder pelo legado
tropicalista de alguns dos momentos mais geniais de Rita
Lee, de Arnaldo Baptista e do
maestro Rogério Duprat.
Não à toa, "Haih..." é revestido de referências aos Mutantes
dos melhores tempos, entre
1967, quando estrearam no
Festival da Record ao lado de
Gilberto Gil, e 1972, último ano
de Rita na banda.
Mas tais elementos estéticos,
tão característicos daquele momento histórico-cultural, aparecem com certa obsessão no
disco de 2009. Parecem ter sido
procurados, milimetricamente
calculados e decalcados do passado glorioso para o agora.
Como careciam da genialidade amalucada de Arnaldo Baptista (e não dispunham dela), os
novos Mutantes foram atrás de
outro gênio maluco para colaborar nas letras. Tom Zé assina
seis das 11 neste trabalho. E começa o desfile dos clones.
O mesmo clima de "caipirrock" psicodélico de "2001",
parceria dele com Rita gravada
em 1969, volta sem disfarce em
"2000 e Agarraum" -agora assinada com Dias.
O gago de "Qualquer Bobagem", outra parceria original de
Tom Zé com os Mutantes em
1969, retorna em "Anagrama".
Agora, só gagueja nas últimas
sílabas de cada verso.
O espírito latido de "Cantor
de Mambo" é autoplagiado em
"Samba do Fidel". "Nada Mudou" remete diretamente a
"Fuga nº 2" (1969); "Neurociência do Amor", a "Tempo no
Tempo" (1968).
Faltava equivalente para
"Minha Menina", o samba rock
de Jorge Ben que a banda lançou, com o autor ao violão, em
1968. Entra aqui "O Careca", do
mesmo Jorge Ben -agora Jor.
Os novos Mutantes, ficou claro,
são muito fãs dos Mutantes originais. Só falta a eles o principal: a originalidade.
HAIH... OR
AMORTECEDOR
Artista: Mutantes
Gravadora: Anti Records
Quanto: US$ 13,99 (importado; cerca de R$ 25) mais taxas, pelo site
www.amazon.com
Avaliação: regular
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