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11º FESTIVAL DE CINEMA DO RIO
Campanella constrói noir à argentina
Diretor argentino veio ao Festival do Rio para apresentar "O Segredo dos Seus Olhos", tributo aos filmes de detetives
"É uma história policial com personagens comuns", diz cineasta sobre produção que disputa uma vaga no Oscar de filme estrangeiro
LEONARDO CRUZ
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
Juan José Campanella levou
o cinema noir a Buenos Aires. O
diretor de "O Filho da Noiva"
(2001) e "Clube da Lua" (2004)
apresenta no Festival do Rio "O
Segredo dos Seus Olhos", tributo aos filmes de detetives que
marcaram os anos 40 e 50.
"O Segredo dos Seus Olhos"
conta a história de Benjamin
Espósito (Ricardo Darín), que,
ao se aposentar do Tribunal Penal de Buenos Aires, decide escrever uma ficção sobre um caso de estupro e morte ocorrido
em 1974. O livro é pretexto para
reencontrar Irene (Soledad Villamil), chefe de Benjamin à
época e sua antiga paixão.
Em entrevista à Folha no
Rio, Campanella, 50, conta que
o longa é uma adaptação do
primeiro romance policial do
contista argentino Eduardo Sacheri. "Essa combinação me
agradou. Desde pequeno, sempre gostei da literatura policial.
E os contos de Sacheri são muito interessantes", diz o diretor,
lembrando que, quando garoto,
foi leitor assíduo das tramas de
Raymond Chandler, Dashiell
Hammett e Georges Simenon.
Campanella explica que a
abordagem diferente que Sacheri deu ao gênero foi o que
mais o atraiu no livro. "Não há
um detetive bêbado, uma femme fatale ou um grupo mafioso
buscando um tesouro. É uma
história policial com personagens comuns, com linguagem
cotidiana, parecida com a usada nas comédias de costumes."
Na versão ao cinema, Campanella aprofundou a mistura
de gêneros e abriu mais espaço
ao humor e ao romance -o papel de Irene foi ampliado para
destacar a relação com Benjamin. O diretor aponta o clássico "Casablanca" (1942) como a
principal influência deste filme. ""Casablanca" me encanta
porque não é um noir convencional, quebra as regras. E não
me vejo como um diretor que
siga as regras de um gênero."
A fusão de Campanella resultou em um filme saboroso, que
equilibra bem esses elementos
distintos. Também foi o maior
sucesso nacional de público na
Argentina neste ano -cerca de
1,5 milhão de pessoas já viram
o filme, que estreou em agosto.
Além disso, o longa irá representar o país na disputa por
uma vaga no Oscar de filme estrangeiro e concorrerá com o
brasileiro "Salve Geral".
Ricardo Darín
Um dos motivos para o êxito
comercial do filme é a presença
de Ricardo Darín, um dos principais atores argentinos hoje e
que protagoniza o quarto longa
consecutivo de Campanella.
"Ricardo domina as muitas
mudanças de tom do cinema.
Passa do drama à comédia de
forma sutil. É seu grande mérito", avalia o cineasta, que compara o amigo ao inglês Hugh
Laurie, a quem já dirigiu em
três episódios da série "House".
"Como Ricardo, Laurie, com a
idade, cria uma máscara de ator
cada vez melhor, uma expressão facial forte e mais versátil."
A direção de séries de TV é o
ganha-pão de Campanella
-além de "House", ele já fez 16
episódios de "Law & Order" e
um de "30 Rock". Realiza em
média três capítulos por ano e
voltará aos EUA em dezembro
para fazer mais dois de "House"
e um de "Law & Order".
Em paralelo, o cineasta começa a desenvolver um projeto
para 2011. É uma animação
chamada "Metegol", inspirada
em conto de Roberto Fontanarrosa sobre as memórias de
um atacante de futebol.
Ainda sem previsão de estreia comercial no Brasil, "O
Segredo dos Seus Olhos" tem
sessões hoje no Estação Vivo
Gávea 2 (13h20 e 19h50) e uma
amanhã no Gávea 5 (17h20).
O jornalista LEONARDO CRUZ viaja a convite do
Festival do Rio.
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