São Paulo, quarta-feira, 30 de setembro de 2009

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11º FESTIVAL DE CINEMA DO RIO

Campanella constrói noir à argentina

Diretor argentino veio ao Festival do Rio para apresentar "O Segredo dos Seus Olhos", tributo aos filmes de detetives

"É uma história policial com personagens comuns", diz cineasta sobre produção que disputa uma vaga no Oscar de filme estrangeiro

LEONARDO CRUZ
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Juan José Campanella levou o cinema noir a Buenos Aires. O diretor de "O Filho da Noiva" (2001) e "Clube da Lua" (2004) apresenta no Festival do Rio "O Segredo dos Seus Olhos", tributo aos filmes de detetives que marcaram os anos 40 e 50.
"O Segredo dos Seus Olhos" conta a história de Benjamin Espósito (Ricardo Darín), que, ao se aposentar do Tribunal Penal de Buenos Aires, decide escrever uma ficção sobre um caso de estupro e morte ocorrido em 1974. O livro é pretexto para reencontrar Irene (Soledad Villamil), chefe de Benjamin à época e sua antiga paixão.
Em entrevista à Folha no Rio, Campanella, 50, conta que o longa é uma adaptação do primeiro romance policial do contista argentino Eduardo Sacheri. "Essa combinação me agradou. Desde pequeno, sempre gostei da literatura policial.
E os contos de Sacheri são muito interessantes", diz o diretor, lembrando que, quando garoto, foi leitor assíduo das tramas de Raymond Chandler, Dashiell Hammett e Georges Simenon.
Campanella explica que a abordagem diferente que Sacheri deu ao gênero foi o que mais o atraiu no livro. "Não há um detetive bêbado, uma femme fatale ou um grupo mafioso buscando um tesouro. É uma história policial com personagens comuns, com linguagem cotidiana, parecida com a usada nas comédias de costumes."
Na versão ao cinema, Campanella aprofundou a mistura de gêneros e abriu mais espaço ao humor e ao romance -o papel de Irene foi ampliado para destacar a relação com Benjamin. O diretor aponta o clássico "Casablanca" (1942) como a principal influência deste filme. ""Casablanca" me encanta porque não é um noir convencional, quebra as regras. E não me vejo como um diretor que siga as regras de um gênero."
A fusão de Campanella resultou em um filme saboroso, que equilibra bem esses elementos distintos. Também foi o maior sucesso nacional de público na Argentina neste ano -cerca de 1,5 milhão de pessoas já viram o filme, que estreou em agosto.
Além disso, o longa irá representar o país na disputa por uma vaga no Oscar de filme estrangeiro e concorrerá com o brasileiro "Salve Geral".

Ricardo Darín
Um dos motivos para o êxito comercial do filme é a presença de Ricardo Darín, um dos principais atores argentinos hoje e que protagoniza o quarto longa consecutivo de Campanella.
"Ricardo domina as muitas mudanças de tom do cinema. Passa do drama à comédia de forma sutil. É seu grande mérito", avalia o cineasta, que compara o amigo ao inglês Hugh Laurie, a quem já dirigiu em três episódios da série "House".
"Como Ricardo, Laurie, com a idade, cria uma máscara de ator cada vez melhor, uma expressão facial forte e mais versátil."
A direção de séries de TV é o ganha-pão de Campanella -além de "House", ele já fez 16 episódios de "Law & Order" e um de "30 Rock". Realiza em média três capítulos por ano e voltará aos EUA em dezembro para fazer mais dois de "House" e um de "Law & Order".
Em paralelo, o cineasta começa a desenvolver um projeto para 2011. É uma animação chamada "Metegol", inspirada em conto de Roberto Fontanarrosa sobre as memórias de um atacante de futebol.
Ainda sem previsão de estreia comercial no Brasil, "O Segredo dos Seus Olhos" tem sessões hoje no Estação Vivo Gávea 2 (13h20 e 19h50) e uma amanhã no Gávea 5 (17h20).


O jornalista LEONARDO CRUZ viaja a convite do Festival do Rio.


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