São Paulo, quarta, 30 de setembro de 1998

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Vendo SBT e compro outra, diz Silvio Santos a mercado


Em reunião com anunciantes, a cujo conteúdo a Folha teve acesso, empresário do SBT diz que Ratinho deu mais resultado que contratar Boni e vale mais e custa menos que novela; ainda, que há grupos interessados em comprar a emissora, que valeria US$ 870 mi


CÉLIA DE GOUVÊA FRANCO
da Reportagem Local

Os espectadores do SBT não têm outra opção: terão de se acostumar às constantes mudanças na programação da rede.
Silvio Santos, dono da emissora, acredita que acabar com os programas que tenham baixa audiência é o caminho para evitar que o SBT tenha o mesmo destino das TVs Tupi e Excelsior, que faliram.
A confirmação de que essa é mesmo a estratégia do SBT, apesar de protestos de espectadores e anunciantes, foi feita, anteontem, pelo próprio Silvio Santos.
Numa decisão inédita, ele convidou um grupo de diretores de empresas que são grandes anunciantes na televisão e de publicitários para um café da manhã.
A empresa decidiu realizar a reunião porque muitos anunciantes estão reclamando que não conseguem saber em que programa vai ser veiculado seu anúncio.
O cenário escolhido por Silvio Santos para o encontro não poderia ser mais emblemático. A conversa aconteceu no auditório do SBT, na sede da Anhanguera, em São Paulo, onde é realizado o programa do Ratinho, o apresentador Carlos Massa, que se tornou um símbolo da nova era da emissora em que tudo é decidido em função dos índices do Ibope.
Sem papas na língua, o dono do SBT respondeu às perguntas -algumas em tom de cobrança- com bom humor, reafirmando que é ele quem manda e que seu objetivo é aumentar o faturamento e a rentabilidade da empresa. Ele estava acompanhado de alguns dos principais diretores da rede, entre eles Walter Zagari, diretor comercial.
Os principais tópicos da reunião de Silvio Santos são os seguintes, como apurou a Folha:

VALE-TUDO DA AUDIÊNCIA - O principal objetivo de Silvio Santos, ao assumir todas as rédeas da emissora, é aumentar sua audiência. Esse seria o caminho para também aumentar a fatia do SBT no bolo publicitário, disse. Por isso, Silvio Santos não vê nenhum problema em alterar a programação, todas as semanas se for preciso.
Os programas que não alcançarem uma audiência de 10 ou 11 pontos correm risco de acabar ou de serem trocados de horário. Esse princípio explica por que o SBT já colocou no ar apenas o segundo tempo de jogos de futebol da Copa Mercosul ou cancelou intervalos comerciais quando a audiência estava particularmente alta.

² FATURAMENTO E LUCROS - No ano passado, o SBT faturou cerca de R$ 400 milhões (conta que não inclui outras empresas controladas por Silvio Santos). Neste ano, as perspectivas eram desfavoráveis porque a audiência média da emissora estava caindo, e a taxa de lucratividade, muito baixa. A Record estava roubando audiência e receita publicitária do SBT. Por isso, Silvio Santos resolveu adotar uma política de trocar a programação até acertar e contratar Ratinho.

² RATINHO - A contratação de Ratinho foi decidida a partir de contas feitas por Silvio Santos. Era preciso recuperar os índices do Ibope -o que já teria começado a acontecer: a audiência média da emissora no horário nobre teria passado de 11 pontos para 15 pontos.
Vários publicitários e anunciantes perguntaram se a contratação de Ratinho vai realmente ajudar na receita publicitária, já que muitas empresas receiam associar seu produto a programas extremamente populares. Silvio Santos disse não ter dúvidas disso.

² BONI - Silvio Santos confirmou que quis convencer José Bonifácio Oliveira Sobrinho, o Boni, ex-todo poderoso da Globo, a trabalhar com ele. Boni teria pedido participação na empresa mais um salário milionário e teria prometido um audiência de 15 pontos em alguns anos. Silvio Santos disse que foi mais fácil contratar Ratinho, que já lhe deu os 15 pontos de audiência.

² NOVELAS - Vale mais a pena ter um programa como o do Ratinho do que novelas, disse Silvio Santos. Cada capítulo custa pelo menos R$ 40 mil para ser gravado. Se for o caso, compra-se novelas no exterior.

² OS INTOCÁVEIS - Poucos programas escapam do dilema de terem audiência elevada ou serem extintos. Entre eles, Silvio Santos citou o de Jô Soares e Serginho Groismann. Não explicou por que já trocou o programa de Groismann de horário cerca de 40 vezes.

² JORNALISMO - Silvio Santos disse que não precisa seguir o modelo americano de televisão, com jornalismo no horário nobre, seguido de seriados ou novelas. Lembrou que teve programas jornalísticos de prestígio, como o liderado por Boris Casoy, mas que esses programas não tiveram um retorno publicitário compensador.
Já o "Notícias de Última Hora" (programetes de dois ou três minutos apenas com a leitura de notícias) estaria agradando ao público do SBT e, por ser bem curto, não provocaria queda na audiência.

² SBT VENDE? - Para Silvio Santos, o principal exemplo de que colocar comerciais no SBT vale a pena para o anunciante é a Telesena, outro negócio dele mesmo. As campanhas do Telesena são veiculadas só no SBT e isso é suficiente para que sejam vendidas entre 15 milhões e 20 milhões de cartelas ao mês.

² VENDA DO SBT - Silvio Santos confirmou que várias empresas de comunicação o procuraram, nos últimos meses, interessadas em comprar sua emissora de televisão. Contou que uma avaliação feita por um banco indica que o SBT valeria US$ 870 milhões.
Ao perguntarem se ele venderia, Silvio Santos disse que, se oferecerem US$ 1 bilhão, ele vende. Com o dinheiro, compra outra emissora de TV, afirmou, gargalhando. Ele citou nominalmente pelo menos uma das interessadas, a Televisa, mexicana, grupo com o qual o SBT já fez vários negócios. Disse que foi procurado por empresas americanas, mas não mencionou nomes.

² FÓRMULA INDY - O SBT não vai mais apresentar as corridas de Fórmula Indy porque a audiência de domingo sempre cai quando o "Programa de Domingo" (de Gugu Liberato) é interrompido para sua apresentação.

² PROGRAMAÇÃO DE DOMINGO - Para Silvio Santos, a programação de domingo é excepcionalmente importante -a publicidade veiculada no domingo chega a cerca de R$ 100 milhões, quase 25% da receita total.



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