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LITERATURA
Giordano lança o romance de cavalaria "Tirant lo Blanc', considerado o maior clássico da língua catalã
"Quixote da Catalunha' chega ao Brasil
Gravura mostra cena de um combate entre cavaleiros medievais
JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas
Cinco séculos depois de sua primeira publicação, em 1490, chega
finalmente à língua portuguesa o
caudaloso "Tirant lo Blanc", de
Joanot Martorell.
O livro -que está sendo lançado
no Brasil pela Giordano, em tradução do próprio editor, Cláudio
Giordano- é considerado o
maior clássico da literatura catalã e
um dos pontos altos do romance
de cavalaria.
"Tirant" está para a língua catalã
como "Don Quixote" (1605-15) está para a castelhana. Curiosamente, o romance de Martorell é citado
por um personagem do clássico de
Cervantes como "o melhor livro do
mundo", "tesouro de satisfação e
mina de passatempos".
Tirant lo Blanc, o personagem, é
um nobre da Bretanha (noroeste
da França) que, depois de aprender os segredos da cavalaria na Inglaterra com o velho herói Guillem
de Varoic (forma catalã de William
of Warwick), participa de lutas
contra os mouros e os turcos na
Europa e no norte da África.
Sua última vitória -a expulsão
dos turcos de Constantinopla e a
restauração do Império Grego-
coincide com a conquista de sua
grande amada, a princesa Carmesina, filha do imperador da Grécia.
Essa trajetória heróica e galante é
narrada com riqueza de detalhes e
digressões, em 850 páginas. Para
os estudiosos, o livro de Martorell
contrasta com o romance de cavalaria tradicional por sua abordagem mais realista, quase prosaica.
Como já notava aquele mesmo
personagem de Cervantes, no "Tirant" "os cavaleiros comem, dormem e morrem em suas camas e
fazem testamento antes de sua
morte". No livro de Martorell não
há dragões, fadas ou poções mágicas. Apenas feitos heróicos -exagerados, mas não sobrenaturais.
Para o escritor peruano Mario
Vargas Llosa, ardoroso admirador
da obra e autor do texto que serve
de introdução à edição brasileira,
outras marcas do "Tirant" são o
erotismo e a verborragia.
As cenas amorosas, de fato, são
de uma crueza pouco comum na literatura medieval. Quanto à verborragia, não há o que contestar:
todos falam pelos cotovelos no romance. Os diálogos ou monólogos
ocupam às vezes páginas inteiras,
frequentemente interrompendo a
ação em um ponto culminante.
Quando resolveu traduzir o "Tirant lo Blanc", o editor Cláudio
Giordano tinha à sua frente duas
possibilidades: fazer uma versão
condensada e adaptada à linguagem de nossos dias ou verter o livro em sua integridade.
"Optei pelo segundo caminho,
mantendo inclusive as redundâncias que algumas traduções para
outras línguas eliminaram", disse
o editor à Folha. "Quanto à linguagem, afastei a idéia de modernizá-la, porque acho que soaria falso e
também porque eu sou meio arcaico, mesmo."
Giordano, que diz nunca ter
aprendido catalão, define seu trabalho como "o esforço de um amador". O editor dedicou dois anos à
tradução do livro, apoiando-se em
sua sólida formação linguística
(grego clássico, latim, francês, inglês e italiano) e tendo à mão traduções do "Tirant" para o espanhol, o francês e o inglês.
Com o apoio do Ministério da
Cultura da Espanha e do governo
regional da Catalunha, imprimiu
1.500 exemplares da obra, que já
estão nas livrarias de São Paulo e
começam a ser distribuídas para os
outros Estados.
²
Livro: Tirant lo Blanc
Autor: Joanot Martorell
Tradução: Cláudio Giordano
Editora: Giordano (tel. 011/829-9369)
Preço: R$ 48 (857 págs.)
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