São Paulo, terça-feira, 30 de outubro de 2001

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LITERATURA

Makhmalbaf retrata situação no Afeganistão

PAULO DANIEL FARAH
DA REDAÇÃO

"Cheguei à conclusão de que a estátua de Buda não fora demolida por qualquer pessoa, pois ruiu, de vergonha -vergonha pela ignorância do mundo com relação ao Afeganistão." A frase resume as críticas à comunidade internacional e o quadro desolador que o cineasta iraniano Mohsen Makhmalbaf traça em "O Afeganistão", a ser lançado hoje no Cineclube DirecTV.
"Por que as estátuas são tratadas com mais carinho do que os seres humanos neste mundo de hoje?", questiona Makhmalbaf, em referência aos protestos gerados pela destruição "profilática", em março, de duas estátuas gigantes de Buda na região de Bamiyan. O ato de intolerância religiosa foi descrito à época como um crime contra a humanidade, mas Makhmalbaf demonstra, por meio de relatos e estatísticas impressionantes, que a miséria afegã, agravada pela seca, e as sequelas da guerra recebem um tratamento bem menos indignado.
"Desconheço qualquer nação cuja população tenha sido reduzida em 10% por mortandade e 30% por migração e que tenha sido vista com tamanha indiferença pelo mundo", diz Makhmalbaf, 44, que não esconde sua sensação de impotência diante da tragédia.
O livro traz um panorama histórico e geográfico do Afeganistão, abrangente e sem rigor acadêmico, e destaca o drama dos refugiados afegãos, incluindo o tráfico humano realizado por contrabandistas que, muitas vezes, aceitam como garantia de pagamento por seus serviços duas ou três meninas mantidas como reféns até a família afegã encontrar um emprego e quitar a dívida -o que nem sempre acontece.
A conclusão da obra inclui uma carta-apelo para o presidente iraniano, Mohamad Khatami, a fim de que ele não deporte os mais de 2 milhões de refugiados no país.
O relato ganha vida nas fotos da diretora Samira Makhmalbaf -parte delas exposta no evento de hoje. Estão ali as mulheres cobertas pela burga, o olhar desolado de muitos afegãos e as próteses que substituem as pernas das vítimas de minas terrestres. "O grupo canadense que viera para desativar as minas encontrou uma tragédia por demais extensa, perdeu a esperança e retornou ao Canadá", diz o cineasta iraniano.
Makhmalbaf não poupa críticas ao Taleban (estudantes, em pashtu), à humilhação que o grupo extremista islâmico que controla quase todo o Afeganistão impõe às mulheres e a seu líder supremo, o mulá Omar. Tampouco a Washington e às Nações Unidas.


O Afeganistão    
Autor: Mohsen Makhmalbaf
Editora: Publifolha
Quanto: R$ 15 (116 págs.)
Lançamento: hoje, com a exposição fotográfica homônima de Samira Makhmalbaf, às 18h30, no Cineclube DirecTV (r. Augusta, 2.530, SP)




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