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LITERATURA
Makhmalbaf retrata situação no Afeganistão
PAULO DANIEL FARAH
DA REDAÇÃO
"Cheguei à conclusão de
que a estátua de Buda não
fora demolida por qualquer pessoa, pois ruiu, de vergonha -vergonha pela ignorância do mundo
com relação ao Afeganistão." A
frase resume as críticas à comunidade internacional e o quadro desolador que o cineasta iraniano
Mohsen Makhmalbaf traça em
"O Afeganistão", a ser lançado
hoje no Cineclube DirecTV.
"Por que as estátuas são tratadas com mais carinho do que os
seres humanos neste mundo de
hoje?", questiona Makhmalbaf,
em referência aos protestos gerados pela destruição "profilática",
em março, de duas estátuas gigantes de Buda na região de Bamiyan. O ato de intolerância religiosa foi descrito à época como
um crime contra a humanidade,
mas Makhmalbaf demonstra, por
meio de relatos e estatísticas impressionantes, que a miséria afegã, agravada pela seca, e as sequelas da guerra recebem um tratamento bem menos indignado.
"Desconheço qualquer nação
cuja população tenha sido reduzida em 10% por mortandade e
30% por migração e que tenha sido vista com tamanha indiferença
pelo mundo", diz Makhmalbaf,
44, que não esconde sua sensação
de impotência diante da tragédia.
O livro traz um panorama histórico e geográfico do Afeganistão, abrangente e sem rigor acadêmico, e destaca o drama dos refugiados afegãos, incluindo o tráfico humano realizado por contrabandistas que, muitas vezes,
aceitam como garantia de pagamento por seus serviços duas ou
três meninas mantidas como reféns até a família afegã encontrar
um emprego e quitar a dívida -o
que nem sempre acontece.
A conclusão da obra inclui uma
carta-apelo para o presidente iraniano, Mohamad Khatami, a fim
de que ele não deporte os mais de
2 milhões de refugiados no país.
O relato ganha vida nas fotos da
diretora Samira Makhmalbaf
-parte delas exposta no evento
de hoje. Estão ali as mulheres cobertas pela burga, o olhar desolado de muitos afegãos e as próteses
que substituem as pernas das vítimas de minas terrestres. "O grupo
canadense que viera para desativar as minas encontrou uma tragédia por demais extensa, perdeu
a esperança e retornou ao Canadá", diz o cineasta iraniano.
Makhmalbaf não poupa críticas
ao Taleban (estudantes, em pashtu), à humilhação que o grupo extremista islâmico que controla
quase todo o Afeganistão impõe
às mulheres e a seu líder supremo,
o mulá Omar. Tampouco a Washington e às Nações Unidas.
O Afeganistão
Autor: Mohsen Makhmalbaf
Editora: Publifolha
Quanto: R$ 15 (116 págs.)
Lançamento: hoje, com a exposição
fotográfica homônima de Samira
Makhmalbaf, às 18h30, no Cineclube
DirecTV (r. Augusta, 2.530, SP)
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