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Análise/show
Noite Jazz US teve shows de alto nível, mas acabou com meia sala vazia
CARLOS CALADO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Depois da irregular noite de
jazz europeu (no sábado), a satisfação da platéia que saía do
Auditório Ibirapuera, já na madrugada de ontem, era evidente. Marcada por releituras de
clássicos, a noite Jazz US reuniu quatro shows de alto nível.
Liderando seu noneto formado por talentosos veteranos
de big bands, o saxofonista Joe
Lovano abriu bem a programação. Uma suíte de temas de
"Birth of the Cool" (o cultuado
álbum de Miles Davis), incluindo a suave "Moon Dreams" e a
nervosa "Boplicity", foi o destaque de seu repertório.
Lovano chegou a ser ofuscado pelos improvisos inventivos
de alguns parceiros, como o sax
alto Steve Slagle e o baixista
Dennis Irwin, que provocaram
sorrisos ao citar fragmentos de
"Garota de Ipanema" (Tom Jobim) e "Fita Amarela" (Noel
Rosa). Brilhante também foi a
apresentação do trio do organista Joey DeFrancesco com o
veterano vibrafonista Bobby
Hutcherson, que exibiram sofisticadas releituras de temas
de John Coltrane ("Pursuance") e Thelonious Monk ("Little Rootie Tootie").
Até mesmo o vanguardista
Cecil Taylor, decano do free
jazz, conquistou parte da platéia. Muitos voltavam do intervalo, quando o pianista entrou
de meias declamando um poema: "O som! O som! O som!".
Performático, Taylor gemia
ao percutir o piano preparado
com guizos nas cordas. Parava,
subitamente, e resmungava palavras incompreensíveis, num
passeio pelo universo incerto
do atonalismo e das arritmias.
Já com parte da platéia vazia,
o septeto do trombonista Conrad Herwig fechou a noite
com outra seleção de clássicos.
A novidade está na coloração
latina que seus saborosos arranjos emprestam a pérolas de
John Coltrane ("Lonnie's Lament") e Miles Davis ("So
What"). Sem falar na canja-surpresa do mestre do trombone
Raul de Souza.
Apesar do saldo bem positivo
da noite Jazz US, fica a questão:
vale a pena programar quatro
shows numa noite e terminá-la
com meia sala vazia?
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