São Paulo, sexta-feira, 30 de outubro de 2009

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Em obras

Com a chegada de cinco novas galerias, espalhadas por vários pontos da cidade, São Paulo vive bom momento no mercado de arte

Leonardo Wen/Folha Imagem
Os sócios Pedro Mendes e Matt Wood da galeria RhysMendes, inaugurada em setembro nos Jardins, em São Paulo

MARIO GIOIA
SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL

Num apartamento no décimo andar de um prédio na avenida Paulista, Fabio Cimino acende um charuto. Chegaram ontem as chaves da galeria de arte que ele pretende inaugurar em março do ano que vem.
Vai se chamar Zíper e não deve vender nada parecido com o que está nas paredes do apartamento do dono. "Nelson Leirner, José Resende, os artistas que existem estão envelhecendo", resume. "Há uma procura por novos artistas. As galerias devem buscar talentos, do mesmo jeito que existe o "Ídolos"."
E a demanda por novos ídolos traz junto uma oferta de novos espaços. Outras cinco galerias se instalam agora em São Paulo, cidade que marchands veem como porto seguro no meio da crise que abalou o mundo e fez despencar os preços no mercado internacional.
"Lá fora, é um mercado com bolha, é outro "game'", diz Cimino. "Aqui não teve bolha, preços continuam iguais. O Brasil está sendo descoberto, este é um momento bacana."
Tão bacana que os sócios da galeria Rhys Mendes também fizeram em São Paulo uma filial do negócio que começou em Los Angeles. "Existe uma abertura aqui", diz Pedro Mendes, o brasileiro do time. "São Paulo é uma das cidades mais autofágicas e inventivas do mundo, que aceita qualquer proposta."
E a deles é quebrar o monopólio da abstração geométrica que veem nas galerias tradicionais e misturar nomes fortes a um grupo de jovens que estão vendo despontar em São Paulo. Entre eles estão Carolina Ribeiro e Lucas Arruda, que levaram mais de 700 pessoas à galeria dos Jardins na abertura. "Em Los Angeles, para ter esse público, precisaria fazer muito barulho", diz Mendes.
"Muitas galerias já existiam e estão migrando para cá", observa Márcia Fortes, da poderosa Fortes Vilaça, com dois espaços na cidade. "São Paulo é o centro nervoso, financeiro do país, virou um porto seguro na crise."
Carioca como Fortes, Ronaldo Grossman fez as malas e transferiu sua galeria Novembro da ensolarada Copacabana à cinzenta Doutor Arnaldo, vizinho da galeria Vermelho.
É uma proximidade, aliás, não só geográfica. Zíper, Novembro e Rhys Mendes, estreantes no circuito paulistano, dizem seguir como modelo o foco em nomes ascendentes e mostras alternativas defendido e divulgado pela Vermelho.
"Queria que a cidade invadisse essa galeria", diz Grossman. "Precisamos atrair um público novo, que não seja o do meio."
Com o número limitado de obras consagradas hoje no mercado, marchands tentam emplacar jovens artistas para um público renovado de colecionadores, dispostos a investir em artistas mais jovens e, por isso mesmo, menos caros.
"O importante é vender e quem dá o preço é o galerista", diz Fabio Cimino, entre baforadas de seu Montecristo. "Antes levava dez anos para criar demanda por um artista; hoje você faz um artista em três anos."
Ou até menos. No espaço virtual da Motor, que passa a vender obras de 80 artistas pelo site Submarino na semana que vem, preços baixos devem gerar demanda instantânea por múltiplos e obras menores.
É uma espécie de multimarcas on-line das principais galerias do país, que vão vender uma linha mais simples de obras de artistas já consagrados, aproveitando o bom momento vivido no mercado real.
Existe, aliás, vida nova também no universo dos medalhões. A galerista Raquel Arnaud, que fez bombar a geração construtiva nos anos 70, está se mudando para um espaço bem maior na Vila Madalena.
Maria Baró, focada em artistas latino-americanos já consagrados, também trocou um espaço diminuto no Itaim Bibi por um grande galpão na Barra Funda, seguindo os passos da Fortes Vilaça, que abriu um anexo por ali há um ano.
"Estou esperançosa, a perspectiva é boa", diz Baró. "Há um fogo do colecionismo."


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