da Reportagem Local

Os momentos mais variados de sua existência foram filmados e assistidos por diversas pessoas.
Não se trata do protagonista de "The Truman Show - O Show da Vida", mas sim do documentarista norte-americano Ross McElwee, que se dedica a fazer filmes sobre sua própria vida.
Seu primeiro longa-metragem, "Sherman's March" (1985), mostra a viagem do diretor ao sul dos EUA e sua busca por uma namorada ao longo do caminho.
No filme seguinte, "Time Indefinite" (1993), McElwee filma seu casamento e relata a morte de seus pais.
Em seu último trabalho, "Six O'Clock News" (1997), o diretor procurou estabelecer relações entre as notícias trágicas divulgadas pelos telejornais e a sua rotina e a de amigos próximos e familiares.
Em entrevista à Folha, por telefone de sua casa em Nova York, McElwee contou ter assistido a "O Show da Vida". "Me identifico com Truman e com as pessoas que filmam a sua vida", disse o cineasta.
(BRUNO GARCEZ)

Folha - A câmera está ligada neste exato momento?
Ross McElwee - Não, se estivéssemos falando em um videofone, eu provavelmente estaria filmando. Mas, como não é esse o caso, você pode ficar tranquilo.
Folha - Quantos filmes poderiam ser feitos a partir dos momentos já filmados de sua vida?
McElwee - Muitos acreditam que filmo o tempo todo, mas ninguém seria capaz disso. Poderia fazer apenas uns cinco ou seis filmes com o material que rodei nos últimos três anos.
Folha - Jean-Luc Godard disse que o cinema é a verdade 24 vezes por segundo (número de fotogramas projetados por segundo). Esse é o ideal que você quer atingir com o seu cinema?
McElwee - Não existe algo como atingir a verdade pura em cinema. Tento oferecer uma versão que é verdadeira em relação à minha vida. A câmera, é óbvio, interfere na ação que registra.
Folha - Você assistiu ao filme "O Show da Vida"?
McElwee - Sim. Eu me identifico tanto com Truman quanto com as pessoas que filmam a sua vida. O filme levanta questões sobre o apetite insaciável dos americanos por fofocas e pela invasão da privacidade alheia. A diferença entre este e meus filmes é que neles eu volto a câmera mais para mim mesmo.
Folha - Em "Six O'Clock News" você quase aceita uma proposta para realizar um filme de ficção. Já levou essa idéia adiante?
McElwee - Ainda flerto com a idéia, mas amo fazer documentários. O que não significa que jamais farei uma obra de ficção. A vantagem de meus filmes é que seus custos são baixos, pois eu mesmo filmo e edito.
Folha - Quando foi que você decidiu filmar sua própria vida?
McElwee - Comecei há cerca de 20 anos. Minha principal influência foi o cineasta americano Fred Wiseman, que se limitava a registrar a realidade, sem procurar comentá-la.
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