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CRÍTICA
CD retoma velho estilo do cantor
do enviado ao Rio
"Eu Sou Todos Nós" surge de um
grande desafio. É a volta de Zé Ramalho às canções inéditas após um
longo período em que sua obra se
manteve obscurecida.
O processo havia começado no
despercebido "Cidades & Lendas"
(96), que não era mesmo disco dos
mais inspirados em sua carreira,
embora começasse a afastá-lo dos
padrões de diluição e insegurança
que o haviam acometido.
Não bastava. E o magnífico projeto revisor "Antologia Acústica"
-operado serena e elegantemente
por ele e por Robertinho de Recife- prestou-se a veículo de ressurreição de clássicos nordestinos
como "Avohai" e "Chão de Giz".
Faltava a Zé comprovar que não
era apenas um bom artista aprisionado no passado.
A tarefa é mais que árdua, até
porque hoje Zé é mais do que nunca um artista profundamente marcado por aquelas canções.
Pois bem. A princípio, o novo CD
não derrota mesmo o monstro há
pouco criado. A primeira impressão até é de que Zé volta a se refugiar em recantos do brega para se
garantir. Acontece em "Metrópolis
Dourada", que parece de cara quase um tema de rodeio, ou em "Vermelhos", que chega a namorar um
axezinho.
Mas, no todo, é primeira impressão precipitada por hábitos arraigados por "ressucessos" como
"Admirável Gado Novo", "Banquete de Signos", "Eternas Ondas".
O CD é, isso sim, um trabalho de
respeito de Zé aos admiradores de
seu estilo. Esmera-se em voltar à
seiva nordestina, em especial aos
martelos agalopados, temas "rappeados" de longas estrofes repletas
de versos contorcionistas -tudo
que sempre o caracterizou.
"Beira-Mar - Capítulo Final" é o
melhor exemplo. "Os barcos veleiros resvalam nas brumas/ e as verdes palmeiras nos ares tremulam/
as águas se abraçam, as brisas osculam/ os tortos coqueiros que oscilam no ar", canta/recita, embalado por melodia digna do melhor
de Zé Ramalho.
A mesma (velha) forma ele vai
exibir nas surrealistas/messiânicas
"A Peleja de Zé Limeira no Final do
Segundo Milênio", "Sem-Terra",
"Martelo Rap Ecológico" (a mais
"moderna" da nova lavra), "Agônico - O Canto" (de seu LP de 79,
agora provida de letra), "Errare
Humanum Est" (roubada do repertório de 74 do cantor Jorge
Ben).
Zé Ramalho é um artista que
nem sempre manteve o pacto de
aceitação com seus interlocutores
uma vez mais lutando pela criatividade. Ele hoje sabe que essas coisas
vão e vêm, especialmente para
quem não é politiqueiro e oportunista.
A essa altura, deve saber -e seus
interlocutores também- que não
é artista passadiço ou descartável.
"Eu Sou Todos Nós" é (mais) um
recomeço. Ainda vem mais por aí.
(PAS)
²
Disco: Eu Sou Todos Nós
Artista: Zé Ramalho
Lançamento: BMG
Quanto: R$ 18, em média
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