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Mostra "Paisagem Zero", que tem início hoje em São Paulo, tenta retratar
o Nordeste sem cair em estereótipos
Arte e vida nordestina
FABIO CYPRIANO
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Como é possível retratar o Nordeste brasileiro sem realçar preconceitos e apresentar estereótipos? A pergunta surgiu após a
realização da mostra "Nordestes",
organizada há três anos pelo Sesc,
que foi bastante questionada na
época, justamente por não fugir
do lugar-comum.
Há um ano e meio, o Sesc encarregou um grupo, coordenado pelo produtor cultural Ricardo Muniz e a superintendente cultural
da Fundação Joaquim Nabuco de
Recife, Silvana Meireles, de enfrentar o desafio.
Trancafiados em longos seminários, seja em São Paulo ou no
Recife, o grupo não chegava a um
consenso. O "eureca" surgiu
quando saíram dos gabinetes e visitaram a mãe-de-santo Marivalda, do Maracatu Estrela Brilhante
de Pernambuco. Muniz diz que
"ela contava as histórias de forma
tão envolvente e mostrava como
sua própria vida está totalmente
ligada ao maracatu, que percebemos que a relação entre arte e vida
não está separada dos processos
de criação nordestinos, e era esse
tipo de problematização que deveríamos tratar".
Surgiu ali o embrião do projeto
"Paisagem Zero - Nordeste É Todo Lugar", que acontece hoje e
amanhã no Sesc Pompéia, em São
Paulo. Tomando por base o binômio arte e vida, os curadores pesquisaram artistas e pensadores
que trataram do tema e chegaram
a dois "padrinhos" para o projeto:
o artista plástico Hélio Oiticica
(1937-1980) e a arquiteta Lina Bo
Bardi (1914-1992).
"Chegamos ao Hélio e à Lina
porque em ambos a idéia da participação é fundamental. No primeiro, com seus penetráveis e parangolés, e na Lina porque ela
sempre deixava que os operários
montadores de suas mostras também tivessem espaço para criação", afirma Muniz.
Tendo por base tal paradigma, a
curadoria evitou tratar o Nordeste como território, por isso "Paisagem Zero".
O evento de hoje e amanhã tem
como subtítulo "Experiência 1
-°SAO", pois ocorre em São Paulo. Outras duas versões estão sendo organizadas no próximo ano e
devem ocorrer primeiro no Nordeste -com o perdão da palavra-, já que problematizar a
idéia de Nordeste é outra proposta dos curadores. "O Nordeste é
uma criação do Sul do país. Por
vários séculos, era a região que se
relacionava com o mundo, e, depois que o centro foi deslocado,
restaram apenas imagens do folclore e das praias", diz Meireles.
Entre as iniciativas contra os estereótipos, os curadores montaram um boteco na mostra, onde
estarão à venda apenas produtos
industrializados nordestinos. "Há
dezenas de tipos de água engarrafa, por exemplo, que questionam
a idéia corrente da permanente
seca no Nordeste", afirma Muniz.
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