São Paulo, sábado, 30 de novembro de 2002
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ARTE E VIDA NORDESTINA "Paisagem Zero" apresenta obra de Hélio Oiticica e projetos concebidos por Lina Bo Bardi Estranhamento alicerça exposição
FREE-LANCE PARA A FOLHA A intensa programação organizada, para hoje e amanhã, no evento "Paisagem Zero", procura mesclar o popular e erudito, numa tentativa de criar visibilidade palpável, aquilo que é comumente chamado de "caldeirão cultural". "Nosso objetivo é criar estranhamentos e propor desafios", diz a curadora Silvana Meireles. Assim, em vez de apresentar o maracatu como espetáculo folclórico, por exemplo, ele estará sendo "desconstruído" (a palavra da moda) na frente do público. A mãe-de-santo Marivalda, inspiradora do projeto, estará revelando os segredos do maracatu enquanto uma dançarina ensaia os passos da dança. Entre os ousados experimentos do projeto, "PN 16 - NADA", de Hélio Oiticica, é certamente um deles. A proposta foi criada em 1977, durante o período que o artista viveu em Nova York, e nunca foi realizada. O público deve percorrer um labirinto no escuro e, ao final, registrar seus pensamentos sobre o nada. "Há outros projetos do Hélio que talvez até se adequassem mais ao nosso projeto, mas este, por ser mais conceitual, pode gerar o estranhamento que buscamos", diz Muniz. Outra inspiradora do projeto, a arquiteta italiana naturalizada brasileira Lina Bo Bardi, ganha também a concretização de um de seus projetos. O riacho artificial que corre pela área de convivência do Sesc Pompéia recebe em sua margem um banco de cimento, projetado por Lina e nunca realizado. Quem se sentar nele poderá ouvir, por exemplo, trechos dos sermões de padre Antonio Vieira com os pés na água. "Operários irão retirar, entre o público, o banco de sua forma, pois queremos deixar transparente também a idéia de processo", diz Meireles. A mistura entre erudito e popular é provocada também em cordelistas (criadores da literatura de cordel). Temas abstratos foram fornecidos a eles, e o resultado será apresentado com direção do português João Motta (veja os horários e temas ao lado). Finalmente, apesar da programação conter ainda outros eventos, o mais estranho dos "estranhamentos" a serem provocados ficou a cargo do filósofo Peter Pal Pélbart. Ele irá repetir a performance, realizada no Festival de Teatro de São José do Rio Preto há dois anos, em que uma aula de filosofia, com um vídeo de Giles Deleuze, foi ministrada para porcos vivos. "Deleuze diz que a filosofia é para porcos e crianças, e não para homens comuns, por isso incluímos a performance", explica Muniz. (FABIO CYPRIANO) PAISAGEM ZERO - O NORDESTE EM TODO LUGAR. Mostra multidisciplinar que discute os processos de criação nordestinos. Curadoria: Ricardo Muniz e Silvana Meireles. Onde: Sesc Pompéia (r. Clélia, 93, SP, tel. 0/xx/11/3871-7700). Quando: atividades hoje e amanhã, das 11h às 19h; instalação cenográfica, até 6/12, de ter. a sáb., das 10h às 20h30, dom., até 19h30. Quanto: entrada franca. Texto Anterior: Arte e vida nordestina Próximo Texto: Mônica Bergamo Índice |
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