|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LIVRO/LANÇAMENTO
Filósofo francês discute em seu "Pequeno Manual de Inestética" as relações entre arte e filosofia
Alain Badiou prega a força da poesia
MARCELO REZENDE
DA REPORTAGEM LOCAL
Em uma descrição breve, trata-se de um ensaio sobre a arte e as
maneiras encontradas pela filosofia para pensá-la, muitas vezes a
condenando e impondo a ela, pela força, rígidos limites. Assim é o
"Pequeno Manual de Inestética",
do filósofo francês Alain Badiou,
lançado agora no Brasil pela editora Estação Liberdade.
"É evidente que nessa difícil relação houve sempre uma questão
ligada ao poder", diz Badiou. "Isso desde o início, com a condenação dos poetas por Platão. Um sinal do poder do conhecimento,
da filosofia, sobre a arte. Mas houve também um contra-ataque,
com o romantismo. E esse combate acontece ainda hoje."
Alain Badiou -chefe do departamento de filosofia da École Normale Supérieure e uma das mais
importantes vozes no debate intelectual em seu país- esteve nesta
semana no Rio de Janeiro, para o
encerramento do colóquio "Resistências". Em entrevista à Folha,
ele falou sobre seu livro e, sobretudo, o poder da poesia.
"Eu uso em meu livro o poeta
francês Mallarmé como exemplo
de um período no qual artistas e
filósofos estavam de acordo em
dizer que talvez a poesia fosse o
verdadeiro conhecimento; é
quando a poesia assume obrigações da filosofia, como a procura
pela verdade e a tomada de posição sobre o estado, as coisas do
mundo", diz Badiou.
O poeta Stéphane Mallarmé
(1842-1898) é usado por Badiou
como um guia no "Pequeno Manual de Inestética". A figura predominante com quem dialoga,
em seu texto, sobre a ambição e o
papel da arte.
"Talvez pudéssemos encontrar
outros exemplos em diferentes
campos; no teatro, no cinema, na
dança ou na pintura", continua
ele. "Mas as artes visuais, as artes
do corpo, não podem ter exatamente a mesma pretensão que as
que passam pela escrita, em razão
da linguagem. A poesia e a filosofia concordam ao menos em um
ponto: desejam que a linguagem
se pronuncie sobre aquilo que
não é jamais dito."
E, visando ainda a força do poema, ele chega até o português Fernando Pessoa, alguém que, para
Badiou, está em uma posição de
superioridade em relação a todos
os filósofos do século 20 -isso
em consequência da "fantástica
intuição intelectual" do poeta.
Alain Badiou acredita existir em
Pessoa "a idéia de só ser possível
pensar por meio de múltiplas vozes, e que o contrário disso seria,
em resumo, insuficiente. A criação dos heterônimos foi utilizada
por ele de maneira genial e profunda, e essa idéia não foi jamais
retomada pela filosofia, que ignorou a poesia de Pessoa. Algo lamentável".
Chega-se, então, à crítica: "Ela é
necessária, isso é indiscutível. A
todo momento a produção intelectual deve ser examinada, mas o
mais importante, em definitivo, é
a criação. A crítica deve estar a seu
serviço. O problema fundamental
não é o julgamento, e sim a capacidade de criar".
PEQUENO MANUAL DE INESTÉTICA.
Autor: Alain Badiou. Lançamento:
Estação Liberdade. Quanto: R$ 27 (192
págs.).
Texto Anterior: Lançamento: "Arte/Cidade" chega às livrarias Próximo Texto: Um mar de "Sertões" Índice
|